É emblemático e não deixa de ser emocionante a volta sensata do público aos estádios brasileiros e, muito especialmente, à Arena, ao Alfredo Jaconi e ao Beira-Rio.
O Rio Grande do Sul está no alto da lista dos Estados que mais bem-sucedidos se mostram no combate à pandemia. Os índices de vacinação nos orgulham, a adesão dos jovens é ótima notícia — e ainda dá para ficar melhor caso os retardatários da segunda dose se deem conta do que é o certo a fazer.
O passaporte vacinal vale como fiador da liberdade para todos os que pensam em si e na sociedade como seres indivisíveis neste quesito. O primeiro estádio gaúcho da primeira divisão a sediar este promissor retorno de gente a encher seus espaços de cor e de som será a Arena.
Consigo imaginar a emoção de gremistas ao passar na catraca apresentando garbosamente sua carteira de vacinação. Não basta, no entanto, a liberação ajuizada mediante protocolos sanitários. Cada pessoa que tiver a honra e o privilégio de viver esta retomada precisa cumprir estes protocolos.
Se a Arena terá só 30% de ocupação, dá para manter a distância e não será sacrifício, diante do bem maior que é voltar a ver futebol de perto, manter a máscara no rosto. Quando escrevo "no rosto", devo ser mais específico: cobrindo nariz e boca todo o tempo. O alerta, por repetitivo, pode soar chato e politicamente correto, mas prefiro correr o risco. Trata-se da saúde de cada um e de todos.
Escreve, aliás, quem teve mãe e irmão internados em hospital para tratar coronavírus e viveu dias de angústia antes de ter a feliz notícia da cura. A normalidade possível se aproxima, e tanto mais rápido virá se as pessoas fizerem o certo. Pense no custo-benefício; ainda de máscara, sim, ainda afastado do abraço efusivo pelo gol, sim, mas de volta ao palco insubstituível para ver futebol, o estádio.
Douglas Costa pode brindar gremistas com sua primeira grande atuação desde a chegada. Ferreira deve animar quem estiver de azul a dribles e assistências. Borja talvez garanta os três pontos inegociáveis diante de um adversário direto de Z-4.
Desde março do ano passado, também na Arena, no Gre-Nal da Libertadores, Arena e Beira-Rio só acolhem o som das chuteiras batendo na bola, da bola beijando a trave ou a rede, do grito dos treinadores, do apito do árbitro e das discussões intermináveis dos jogadores com o juiz. Neste domingo, Deus seja louvado e a ciência também, vozes emocionadas gritarão a plenos pulmões o gol marcado ou perdido. É um recomeço histórico que merece ser tratado com cuidado para que não seja preciso dar passo atrás.