O jogo da tarde deste sábado (14), que terá transmissão na RBS TV, desafia o Inter em mais de uma frente. A partida contra o Santos já teria, por si só, enorme valor na briga pela liderança. Porém, a derrota na estreia de Abel Braga na Copa do Brasil amplia a importância do confronto da Vila.
Se estreou com meia hora de conversa e outros 30 minutos de treino, Abel agora terá conversado e trabalhado mais. Não será suficiente para que se veja mudança drástica. Porém, implicará imediatamente que alguma coisa terá mudado em peças e estratégia. Porque o Inter de Eduardo Coudet já precisava de alterações de nomes e trabalho coletivo.
Embora líder, o Inter vinha de um ponto em seis e más atuações contra Corinthians e Coritiba. Sem contar o ambiente tenso fora do gramado, se via dentro dele uma estagnação perigosa para o objetivo de seguir ponteando o campeonato.
Consequências
O pós-Coudet requer cuidado porque, fruto da fratura da sociedade incapaz de tolerar diversidade e debate, estava estabelecido no Rio Grande uma dicotomia medíocre entre supostos coudezistas e anticoudezistas. A polaridade é de uma pobreza franciscana. Quem, como este colunista, cuidava cada palavra para não se deixar rotular lá ou cá sofria as consequências desta defesa do equilíbrio. Coudet não firmou era no Beira-Rio. Não teve esta dimensão, provavelmente tivesse caso continuasse porque é bom treinador e poderia ganhar uma das competições. Do jeito que saiu, não houve tempo para que haja um antes e um depois.
Mas há, sim, um pós-Coudet que precisa ser enfrentado por quem era próximo ao técnico anterior e por quem sentiu renovada a esperança de ser titular. Como todos fazem parte do mesmo grupo e devem compor um time harmonioso, Abel necessita com urgência pacificar as silenciosas tensões no elenco. Thiago Galhardo, por exemplo, tem gratidão eterna a Coudet. Abel não é maluco de mexer nele, mas precisará conquistar o maior protagonista.
No outro extremo, Moledo não devia ter a melhor das impressões de Coudet. Pois bem, Moledo e Galhardo estão no mesmo barco e precisam remar na mesma direção. Patrick é outro que deve ter em Coudet um treinador de quem sentir saudade. Já Yuri Alberto pode estar sentindo que sua chance de virar titular cresceu.
O papel de Abel Braga é complexo nesta hora. Ao mesmo tempo em que precisa corrigir defeitos coletivos e individuais, terá de harmonizar as relações entre os que se ressentem da saída de Coudet e os que veem agora uma porta se abrindo. Sem Patrick, com lesão muscular, Abel Braga escalará alguém que automaticamente vai mudar o jeito de jogar do Inter. Com todos os titulares, o segundo turno já seria mais grave para o Inter, imagine sem jogadores da dimensão dos citados.
Treinando pouco, sob desconfiança de parte da torcida, para quem talvez Abel esteja atrasado em relação aos conceitos contemporâneos, o treinador lida com a urgência de soluções. Ele disse que chegou sem saber o nome de todos os jogadores. Se conhecesse melhor os jogadores, não tiraria Heitor para transformar Marcos Guilherme em lateral-
direito, por exemplo, como fez contra o América-MG. Abel terá que estar disposto para ver todo material possível fornecido pelos analistas do clube. Jogos passados do Inter para compreender o que pode cada jogador, jogos passados dos principais rivais, um trabalho exaustivo, braçal mesmo.
Reversão
Se reverter a desvantagem na Copa do Brasil, título que ainda não tem no currículo, Abel projeta o Inter para o alto, a confiança sedimenta. Caso seja eliminado pelo América-MG, viverá a turbulência correspondente e logo terá o Boca pela frente na Libertadores. Partindo do princípio de que Abel estivesse precisando de algo que chacoalhasse sua trajetória tão bem-sucedida, o prato está cheio de hoje até pelo menos mais 15 dias.