Ao fim da grande atuação que teve na vitória do Inter sobre o Juventude, na última quinta-feira (15), D'Alessandro ouviu do ótimo repórter Júlio César Santos, da RBSTV e Sportv, que futebol parecia fácil vendo o argentino jogar. Ferino e bem-humorado, o capitão colorado devolveu que parece fácil para quem está atrás de uma mesa e de um microfone, mas que ele alcançava aquele nível de desempenho com muito trabalho. Era só mais uma tirada dentre tantas que o gringo já largou desde sua chegada a Porto Alegre em 2008. Vendo D'Alessandro dar três passes para gol naquela partida, lamentei antecipadamente o momento em que o gringo vai parar de jogar futebol. D'Alessandro é daquele tipo de jogador que leva o apaixonado por futebol a torcer contra a passagem do tempo.
Sem ter mais o fôlego, o vigor e a explosão da juventude, D'Alessandro ainda tem muito a dar ao Inter neste 2018 pelo singelo fato de que é quase infinitamente melhor do que seus parceiros de time. Odair Hellmann, inteligente, está tentando formatar um modelo de meio-campo que sustente seu veterano e brilhante jogador não só para o Gauchão, mas para a temporada toda. Rodrigo Dourado e Edenílson, neste contexto, marcam à exaustão. Patric, melhor contratação do clube até agora, completa o tripé com uma qualidade adicional: soma-se ao ataque, passa da linha da bola e imprime força no setor. Não bastasse, entrosou de cara com D'Alessandro, se procuram. Damião e Pottker também marcam feito volantes sem a bola. Tanto esforço vale a pena. D'Alessandro, assim protegido, pode dar tudo o que tem em termos físicos para o momento em que a bola lhe chega. Aí, com seu talento instintivo, descobre espaços onde não há, acerta passes que os outros não acertam, flutua acima dos demais pela relação íntima - eu diria carnal - que tem com a bola.
Quando vierem os adversários mais difíceis no Brasileirão e na Copa do Brasil, caso o Inter passe do Remo quarta-feira e vá avançando, duvido que D'Alessandro fique em campo os 90 minutos a cada jogo. Ele é tão importante, tão raro, que merecerá um plano de ação por parte de médicos, fisiologistas, preparadores físicos e treinador para potencializar seu enorme talento. D'Alessandro ganhou medalha de ouro olímpico com a Argentina, era para ter vivido a seleção do seu país muito mais do que viveu. A carreira no Exterior foi menor do que poderia ser, desconheço as razões. O que sei é que o argentino alcançou no Inter a plenitude do seu futebol, ganhou Sul-Americana, Recopa, Libertadores e um monte de títulos regionais. Identificou-se com o torcedor, virou um dirigente de chuteiras muitas vezes, pressentiu o mal que a direção anterior faria ao clube, afastou-se, viu de longe o rebaixamento, voltou para ser um dos protagonistas do acesso, ainda que sem título.
Das poucas vezes em que conversamos pessoalmente, D'Alessandro foi extremamente atencioso e gentil. Inteligência acima da média. De modo geral, porém, parece ter com a imprensa os dois pés atrás, tanta sua desconfiança. É parte de sua personalidade, não vai mudar à esta altura. Sugiro aos colorados que desfrutem o 2018 em que D'Alessandro ainda estará com a braçadeira a jogar seu futebol de qualidade superior. Jogadores assim tão diferentes são raros. Quando param, fazem falta até para os rivais e, por menos que acredite o gringo, para os jornalistas que gostam de futebol bem jogado.