Alvo de operação da Polícia Federal (PF) nesta segunda-feira (29), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) já foi apontado por ex-aliados como mentor do sistema ilegal de espionagem envolvendo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). As primeiras informações foram levantadas ainda no governo Jair Bolsonaro. Poucos dias antes de sofrer um infarto e morrer, o ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno disse em uma entrevista que o esquema havia sido planejado e coordenado pelo filho do ex-presidente.
Com a troca de governo e o avanço das investigações, a PF coletou mais informações sobre a participação de Carlos, inclusive a partir de relatos de outras pessoas que teriam conhecimento sobre a espionagem. Nos últimos anos, essa empreitada aproximou o vereador do ex-chefe da Abin e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que na semana passada também foi alvo de buscas da PF.
Há poucos dias, Carlos foi anunciado como o coordenador da campanha digital de Ramagem na disputa à prefeitura do Rio de Janeiro. Além de aliado político, o deputado é amigo da família.
O ex-presidente sabia que em algum momento a investigação chegaria em Carlos. A transmissão que Bolsonaro capitaneou nas redes sociais no final de semana foi uma forma de se antecipar às críticas e atribuir as operações a interesses políticos do atual governo. Ele também contemporizou declarações que deu anteriormente admitindo possuir uma “inteligência paralela” durante o seu mandato.
— Quando falei da Abin, da inteligência paralela, está um problema, pegando fogo na Amazônia, liga para o coronel Menezes, "Menezes, como tá aí essa questão de fogo, porque a imprensa tá divulgando", o cara fala para mim. Essa é minha inteligência — alegou.
O uso da estrutura do Estado em benefício próprio já havia sido apontado pelo atual senador e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro (União-PR), como motivo para deixar o governo. Em 2020, ele se recusou a nomear Ramagem como diretor-geral da PF, e logo pediu demissão acusando o então presidente de interferência política nas instituições.
Após realizar buscas na residência e no gabinete de Carlos Bolsonaro nesta segunda-feira, a PF entra na fase final de coleta de elementos para esclarecer o que foi o suposto esquema de arapongagem e até que ponto o ex-presidente pode ter sido beneficiado.
Contudo, ainda que haja fortes indícios de que a estrutura do Estado foi utilizada de maneira ilegal, é inegável que o timing das operações da PF deu munição para o conhecido discurso da perseguição política. Afinal, em uma investigação longa, as ações foram deflagradas justamente nos dias seguintes à confirmação de Ramagem como o provável pré-candidato de Bolsonaro nas eleições de outubro no Rio de Janeiro.
O objetivo da ação desta segunda é identificar possíveis destinatários de informações colhidas supostamente de forma ilegal pela agência. Assessores também são alvo da operação. A suspeita é de que eles pediam informações a Ramagem. O suposto uso impróprio da Abin teria ocorrido sob a liderança do aliado de Bolsonaro e deputado federal pelo Rio de Janeiro.