Ao apresentar um conjunto de medidas que buscam reduzir gastos tributários e equilibrar o orçamento de 2024, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira (28) que a “capacidade de fazer contas” foi perdida na elaboração de leis. Na prática, se valeu do clichê de que não existe almoço grátis para enviar um recado ao Congresso. O apelo é válido. Mas também precisa ser creditado ao seu próprio partido, onde o ministro fala sozinho contra medidas populistas.
Haddad usou como pano de fundo a prorrogação da desoneração da folha de pagamento. Crítico do modelo, ele apresentou uma proposta de retomada gradual da cobrança, com novas regras que beneficiariam os que recebem salários mais baixos. Mas a crítica também carrega a percepção de que a briga interna no governo para equilibrar as contas no próximo ano será dura, e que o Congresso também não vai se esforçar para apertar o cinto em ano eleitoral.
— Nós temos que nos habituar a fazer conta, nós perdemos um pouco a capacidade de fazer contas. Somar, subtrair... São atividades importantes na hora da elaboração de leis. Senão você perde o controle do orçamento. A gente quer fazer o bem, mas temos que saber o que estamos falando. A partir do momento em que você aprova uma lei dizendo que alguém não vai pagar uma coisa, outro vai pagar — sustentou o ministro.
Para comportar o valor recorde de R$ 53 bilhões em emendas, o Parlamento retirou da previsão orçamentária recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de serviços essenciais, como o Farmácia Popular. Mas quem acredita que o presidente Lula e as demais lideranças do PT aceitarão reduzir o patamar de investimentos públicos?
Ao que tudo indica, Haddad terá pela frente um longo ano tentando ensinar lições de matemática.