Foram meses de acampamento em frente ao QG do Exército, em Brasília. Milhares de bolsonaristas vestindo verde-amarelo se revezaram em encontros que discutiam formas de impedir a posse do presidente eleito nas urnas. Em 8 de janeiro, caravanas de várias regiões do país vieram a Brasília reforçar a invasão da Esplanada. Nas dependências do Congresso, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF), eles clamavam por intervenção militar e prometiam deixar o local somente após a destituição do já empossado presidente Lula. Mas o senador gaúcho Hamilton Mourão (Republicanos) acha que a mobilização foi apenas um "quebra-quebra", sem qualquer "tentativa de golpe de Estado".
Além de vergonhoso, o projeto de lei apresentado por Mourão nesta semana para conceder anistia aos réus já condenados mostra seu desprezo pela preservação da democracia. Mas é verdade que a proposta honra seu passado. Afinal, o general da reserva considera o golpe de 1964 uma "revolução", além de achar natural que o país tenha ficado mais de 20 anos sem eleições para presidente.
Como mencionado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, o “negacionismo obscuro” de algumas pessoas “faz parecer que no 8 de janeiro tivemos um domingo no parque”, em que a decisão de invadir as sedes dos Três Poderes foi tomada de forma espontânea.
O STF julgou e condenou até agora 12 réus pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa armada. O perdão proposto pelo senador se restringe aos crimes de golpe de Estado e abolição violenta.
Mourão considera os julgamentos “desproporcionais” pois não vê possibilidade de provar a intenção dos manifestantes em cometer estes crimes. Ou seja, desconsidera todo o planejamento do ato, a defesa que os réus faziam de intervenção militar e a união de esforços para tentar destituir um governo eleito nas urnas.
Seria mais útil se o senador ocupasse seu tempo para fortalecer a oposição ao governo no campo democrático, discutindo problemas reais e apresentando projetos a favor do Estado que foi eleito para representar.