O senador Sergio Moro (União-PR) corre risco real de perder o mandato. Não que haja novas descobertas em relação à investigação judicial eleitoral, aberta no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) por suspeita de abuso de poder econômico na pré-campanha de 2022. O ingrediente extra é a mudança de forças no ambiente político - marcado pela rixa política em que ele se envolveu dentro e fora de seu Estado.
Sem entrar no mérito das motivações de cada um, alvos da Lava-Jato têm desavenças contra o senador. Um dos interessados na cassação, por exemplo, é o ex-governador Beto Richa (PSDB), que comandou o Paraná entre 2011 e 2018. Ele era favorito na eleição ao Senado antes de ser preso de forma preventiva - o que ocorreu a menos de um mês da disputa de 2018. Terminou em sexto lugar.
Ainda desgastado junto à opinião pública, Richa decidiu concorrer à Câmara no ano passado e recebeu apenas 64.868 votos - resultado suficiente, contudo, para ser eleito deputado. Na disputa ao Senado no mesmo ano, Moro contabilizou 1.953.159 votos dos paranaenses. Mas o apoio das urnas nem sempre significa força política. E Richa ainda demonstra forte influência junto ao Judiciário.
Um dos indicativos foi a nomeação do advogado Julio Jacob Junior como novo membro do TRE-PR. Escolhido pelo presidente Lula (PT), ele tem ligações com o tucano, assim como outros integrantes da Corte. Também foram empossados recentemente no tribunal os juizes Anderson Ricardo Fogaça e Guilherme Frederico Hernandes Denz.
A lista de candidatos a algozes de Moro não para em Lula e Richa. Da esquerda à direita, o ex-juiz tem poucos amigos e raras demonstrações de apoio longe dos holofotes - aquelas que realmente importam na hora de negociar apoio político.
Antes das mudanças na composição do TRE-PR, era difícil prever uma derrota de Moro na Justiça do Paraná, especialmente pela fragilidade das acusações. Moro responde pela declaração de gastos eleitorais acima dos limites, além do descumprimento de etapas burocráticas para devolução de sobras de campanha. Casos semelhantes já foram vistos em várias campanhas. Porém, sem configurar justificativa para cassação de um mandato.
Uma prova irrefutável de que o clima é desfavorável ao ex-juiz é a movimentação da classe política em torno de uma possível eleição suplementar. Ao menos três figuras conhecidas da política paranaense já se articulam para a possível eleição suplementar: o deputado licenciado Ricardo Barros (PP), ex-líder do governo Jair Bolsonaro; o ex-deputado Paulo Martins (PL), que já disputou o cargo com Moro em 2022; e a deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
O TRE-PR ainda não marcou data para o julgamento. Caso seja derrotado, Moro ainda poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) - que no mês passado cassou o mandato de deputado do ex-coordenador da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol.