Fernando é um dos dois filhos do fundador da Plaenge, Ézaro Fabian. A empresa criada em 1970 em Londrina se apresenta hoje como "maior construtora do sul do Brasil". Na divisão de tarefas com outros quatro diretores, é responsável pela supervisão das atividades da empresa em Porto Alegre, onde a empresa desembarcou há três anos, e no Chile, onde atua em duas cidades.
Por que a empresa veio a Porto Alegre?
Nós somos do Paraná. Temos uma cultura muito parecida com a gaúcha. Então, fazia todo sentido por essa proximidade, tanto geográfica quanto cultural. E também por ser uma cidade pujante, em um Estado pujante, forte em indústria, agricultura, com economia diversificada e mercado imobiliário também com grande potencial de desenvolvimento.
Como avalia os três primeiros anos de atuação aqui?
Está bem alinhado com o que a gente imaginava. Planejamos que a operação começasse a se consolidar a partir dos primeiros empreendimentos entregues, o que ocorreu neste ano, com a entrega do Yvy. No ano que vem teremos a entrega do Orbitale e mais dois empreendimentos em sociedade com a TGD, o Mood e o Wave, no Litoral Norte. Está dentro do esperado.
Há diferença substancial entre o mercado imobiliário do RS e do Paraná?
Existem particularidades e semelhanças. São duas cidades (Porto Alegre e Curitiba) com alta exigência de design, com escolas de arquitetura e universidades muito tradicionais, com consumidores de bom gosto, pessoas que vêm de berço cultural aprimorado. A diferença significativa é que Curitiba está em um planalto, com quase 1 mil metros de altitude, e Porto Alegre está quase ao nível do mar, com o Guaíba perto. Curitiba também tem um inverno mais úmido, mais frio, e um verão não tão quente. Porto Alegre tem mais amplitude térmica. E o plano de urbanização de Porto Alegre tem um potencial de construção mais restrito em altura e de construtibilidade, o que faz com que os prédios sejam mais baixos do que Curitiba, onde temos edifícios de 40 pavimentos.
Como incluir elementos de resiliência climática em construções e como resolver esse custo?
É um desafio de todas as cadeias produtivas, não só da construção civil. O que percebemos é que pensar no conforto térmico e em diminuir a carga térmica necessária para manter o imóvel fresco no verão e quente no inverno é o caminho mais inteligente. O potencial está em trabalhar arquitetura e isolamento para que, ao longo da vida útil, ajude a economizar ar-condicionado. Quando se multiplica essa diferença por 40 ou 50 anos que o imóvel vai ser habitado, gera o maior impacto que o segmento pode contribuir com o ambiente. Hoje, temos ferramentas, por meio de simulações de conforto térmico, que permitem, com muita facilidade, simular um brise (espécie de quebra-sol) que vai trabalhar no verão e diminuir o calor.
Quais são os planos da Plaenge para Porto Alegre?
Nossa atividade é de planejamento de longo prazo. Neste ano, entregamos o primeiro empreendimento. No ano que vem, vamos ter três entregas. Vai ser um ano muito importante para a nossa trajetória. Conforme vai entregando, vai lançando outros empreendimentos. Devemos ter também três lançamentos no ano que vem, a mesma quantidade de empreendimentos que serão entregues.
A enchente mudou a perspectiva sobre Porto Alegre?
Por enquanto, não mudou nada. A enchente é transitória. Percebemos a coragem, a bravura, a energia positiva do povo gaúcho em superar essa tragédia climática que impactou muito a cidade. Mas a gente acredita que isso vai ser com trabalho, com a união, com os esforços.
Houve alguma revisão de terrenos?
Tivemos a sorte de que nenhum empreendimento nosso chegou a ser atingido. Só postergamos um lançamento deste ano para o ano que vem.
A Plaenge pretende seguir como empresa familiar de capital fechado. Qual é a avaliação de vocês sobre o mercado para chegar a essa decisão?
Cada empresa tem uma estratégia. A estratégia de abrir capital faz sentido quando o plano é uma expansão rápida e agressiva, porque capta um volume grande de recurso e tem de dar destinação para dar retorno à pessoa que comprou a ação. Temos preferência por um crescimento mais constante, tranquilo e consolidado. Quando se olha no longo prazo, é um crescimento volumoso, mas é um degrau por vez, sem pressão. A forma como atuamos é bem descentralizada.
Como funciona na prática?
A operação em cada cidade é quase como se fosse uma empresa semiautônoma no sentido de ter as decisões estratégicas ligadas aos cérebros que estão na cidade. É uma forma um pouco diferente de outras empresas que tem verticalização maior. Na nossa estratégia, o processo de expansão tem de incluir formação de equipe e criação de relacionamento com parceiros, imobiliárias e clientes. Hoje, em uma cidade em que atuamos há bastante tempo, parte significativa das vendas vem de pessoas que já têm relacionamento com a Plaenge. Em uma cidade nova, estamos construindo esses relacionamentos ainda.
Isso significa também que a empresa se considera bem capitalizada, certo?
É isso, justamente por crescermos de uma forma constante e não tão agressiva, os recursos são suficientes. Nossa tradição é fazer um pouco menos do que temos capacidade financeira de fazer. Quando meu pai começou no segmento, dizia que não havia empresas muito antigas, porque ele achava que às vezes se empolgavam e faziam demais. Na época boa, vende bem, mas vem uma ruim e pode quebrar. Então, foi uma lição de ser mais conservador, cauteloso. Na época boa, pode não colher tanto, mas na ruim, tem mais tranquilidade.