A melhora da nota de crédito da agência de classificação de risco Moody's deixou o Brasil à porta do "clube dos bons pagadores", ou seja, países considerados seguros para investir.
Nesta quarta-feira (2), mesmo em meio aos temores de guerra no Oriente Médio, o mercado se animou com a notícia: o dólar cai 0,7%, para R$ 5,426 e a bolsa sobe 1,7%, para 134,7 mil pontos.
A Moody's elevou a avaliação do risco de crédito (rating) do Brasil de Ba2 para a próxima na escala, Ba1. A seguinte, Baa3, já é grau de investimento (veja quadro acima). Como mudou a nota e manteve perspectiva positiva - espécie de antecedente de nova melhora -, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não falta um degrau para o selo de bom pagador, mas "meio".
Chamou atenção, porém, que em vez de reclamar do mercado, que tem sido mais pessimista do que as agências de rating, Haddad mandou uma mensagem para o "fogo amigo":
— Se esse governo como um todo compreender que vale a pena esse esforço produz os melhores resultados, e continuarmos sem baixar a guarda em relação a despesas e receitas, acredito que realmente temos a chance de terminar o mandato do presidente Lula reobtendo o grau de investimento.
A trajetória do Brasil para recuperar rating em grau de investimento é mais longa do que sugere o "meio degrau". E quem indica esse caminho é o próprio texto da Moody's, ao citar "credibilidade do arcabouço fiscal ainda moderada", "custo da dívida relativamente alto" e prever estabilização do endividamento apenas no médio prazo.
Entregar a meta fiscal, já desafiadora, alertam economistas focados em contas públicas, não garante a estabilização da dívida. Para isso, seria preciso gerar um superávit primário de 1%.
Ou seja, em vez de resultado negativo limitado a R$ 28,7 bilhões - sem contar os cerca de R$ 33 bilhões em créditos extraordinários -, seria preciso um positivo ao redor de R$ 180 bilhões.
Qual é o papel das agências de rating?
Como a coluna já comparou, o papel das agências de rating é semelhante ao da Serasa no Brasil. Todo brasileiro sabe que, se estiver "na Serasa", não tem acesso a crédito regular e, se precisar desesperadamente de um empréstimo, terá de recorrer a fontes menos respeitáveis, digamos assim.
O que avaliam?
Fitch, Moody's e S&P respondem por cerca de 80% do mercado global de avaliações de risco. Avaliam, basicamente, o risco de calote: se a possibilidade de inadimplência for grande, o crédito vai custar mais caro. Se é baixo, tomar ou rolar os empréstimos custará menos.
O que as notas significam?
A classificação das agências parece boletim de escola, mas como tem mais escalas parece uma sopa de letrinhas e sinais. Vai do exclusivo AAA e vai até o D de "default", calote no idioma do mercado financeiro. Para facilitar o entendimento, as mais de duas dezenas de combinações são divididas em três grupos:
- O primeiro é chamado "grau de investimento", que o Brasil ambiciona recuperar, apelidado de "clube de bons pagadores" para facilitar a compreensão, que tem dois subgrupos, um de "alta qualidade", outro de "média".
- O segundo tem o nome educado de "grau especulativo", mas ganha apelidos depreciativos: "junk bonds", ou "títulos podres". É onde o Brasil está agora.
- O terceiro é tão ruim que nem apelido formal existe, mas a coluna já classificou de "inferno", onde nenhum país quer entrar e todos querem sair.