O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Uma das âncoras que manteve a inflação dentro da meta no ano passado, os alimentos exercem pressão inversa em 2024. Com mudança climática intensa, que vai desde aguaceiros a estiagens severas, esse grupo acende alerta para o potencial da alta geral de preços no fim deste ano e possibilidade de novo estouro do teto da meta, após breve pausa no ano passado.
O ramo de alimentação em casa acumula alta de 6,27% em 12 meses fechados em setembro no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No mesmo período do ano passado, apresentava queda de 0,78%. Mas o cenário era diferente, com safra melhor, seca menos intensa, preços internacionais em retração e custos menos pesados aos produtores.
Agora, esse segmento está bem acima da média. O IPCA de setembro mostrou que a inflação acumula alta de 4,42% em 12 meses — apenas 0,08 ponto percentual abaixo do teto da meta estipulada para 2024.
Como os alimentos concentram um dos maiores pesos dentro do indicador, a escalada pode gerar projeção de inflação acima do esperado.
Um dos itens que chama a atenção dentro do grupo de alimentos em setembro é o composto pelas carnes, uma das principais fontes de proteína nas mesas das famílias. Na avaliação de especialistas e do IBGE, a falta de chuva e o clima seco afetam a oferta do produto. Além disso, o período de entressafras se soma a esse cenário, inflando os preços. O problema é que esse aumento ocorre em um cenário de demanda menor em algumas classes econômicas.
Juro no radar
Resta saber como uma eventual alta mais intensa da inflação vai afetar a dinâmica do novo ciclo de alta do juro básico no país. Para a próxima reunião, que ocorre em novembro, parte do mercado enxerga um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa — hoje em 10,75% ao ano.
A soma de inflação acima do esperado com economia que desacelera em ritmo lento aumenta a expectativa sobre a força dos próximos acréscimos na Selic e até quando essa nova etapa de alta seguirá.