Até esta segunda-feira (14), cerca de 530 mil endereços na Grande São Paulo seguiam sem luz, fruto da falta de preparo da concessionária local de energia, a Enel, para enfrentar a tempestade da sexta-feira (11).
Sim, você já leu algo parecido com isso. Em abril, milhares de paulistanos já haviam ficado no escuro por até nove dias, pelo mesmo motivo. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avaliou que a Enel não cumpriu o plano de contingência, apontando que a distribuidora colocou 1,7 mil funcionários em vez dos 2,5 mil determinados para atender emergências.
Além de acirrar a disputa política às vésperas do segundo turno das eleições municipais, o episódio eleva a pressão sobre a decisão que o governo tem de tomar - em tese, na terça-feira (15) sobre o horário de verão. Além da economia gerada, a estabilidade do Sistema Nacional Interligado (SIN) está em jogo, como a coluna já explicou.
É importante entender que a causa do novo apagão paulistano não é "elétrica", como se diz no jargão do setor. A expressão é usada exatamente quando a intercorrência que provoca o desligamento está relacionada ao SIN - como em vários outros mais extensos geograficamente.
Mas em um país que experimenta temperaturas e tempestades extremas, um sistema elétrico tão complexo quanto o nacional precisa de mais equilíbrio entre oferta e demanda para permanecer estável.
Vários investimentos seguem sendo feitos na transmissão – o transporte de energia "no atacado", ou seja, dos centros de geração até perto dos locais de consumo –, mas o SIN ainda precisa de muitas melhorias para ficar robusto.
E o cenário do Operador Nacional do Sistema para os próximos meses é de forte demanda em decorrência das altas temperaturas e risco na oferta provocado por redução no nível dos reservatórios das hidrelétricas por causa da seca. Essa situação provoca desequilíbrio no balanço de carga e eleva a ameaça de uma pequena intercorrência em uma região ser replicada em ondas pelas demais.