Mesmo pressionado pelo apagão tecnológico que afeta negócios em quase todo o mundo, o mercado no Brasil reage mais ao anúncio de cortes no orçamento federal deste ano feito na véspera pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Um claro sintoma do foco local é o fato de que aqui a bolsa sobe, enquanto sua referência, a de Nova York, opera no negativo. Ambas variam pouco, mas com sinal invertido.
O dólar cai 0,54% no final da manhã, em sinal de alívio relativo, mas não retoma o nível dos R$ 5,40 em que estava até a véspera. É negociado a R$ 5,557.
Um dos motivos da reação positiva - pero no mucho - é o fato de que as projeções das necessidades de cortes de gasto para o ano todo correspondem ao dobro da quantia anunciada por Haddad. Ao explicitar a quantia, o ministro admitiu que o valor tem a ambição de manter a meta de déficit zero "dentro da banda".
Isso significa que a intenção não é entregar um resultado sem rombo, mas com resultado negativo limitado a 0,25% do PIB, a margem de tolerância de variação da meta fiscal deste ano.
A projeção da Instituição Fiscal Independente (IFI) é de que esse objetivo exigiria um corte em 2024 de R$ 28,9 bilhões. Mas esse seria o total para o ano, e a quantia anunciada por Haddad abrange o primeiro semestre. Novas contenções de gastos podem ser anunciadas até dezembro.
Outra parte da reação do mercado virá com o detalhamento do bloqueio de R$ 11,2 bilhões e do contingenciamento de R$ 3,8 bilhões na segunda-feira (22), quando será publicado o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, documento oficial sobre as contas públicas.
Entenda as diferenças
R$ 3,8 bilhões contingenciados: o objetivo é cumprir a meta fiscal anual de déficit zero, com intervalo de tolerância de 0,25% do PIB, para cima ou para baixo. Esse tipo de restrição é reversível, ou seja, caso haja resultado melhor do que o previsto, pode voltar a ser liberado.
R$ 11,2 bilhões bloqueados: é uma exigência para o cumprimento do limite de despesas definido no arcabouço fiscal, que prevê aumento máximo de 2,5% ao ano, descontada a inflação. Esse é um corte bem mais difícil de reverter, embora não seja impossível.