O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Há um aroma de crise que antecipa a reunião agendada para esta terça-feira (18) entre a Fraport, concessionária do Aeroporto Salgado Filho, e o governo federal. Na semana passada, a declaração de Andreea Pal, CEO da empresa que atua em Porto Alegre desde 2018 – também responsável por Fortaleza (CE) e subsidiária da Fraport AG Frankfurt Airport Services, o maior aeroporto da Alemanha, uma das líderes no mercado global – dá o tom do debate.
A concessionária buscará o aval, previsto em contrato e já reconhecido pelo Ministério de Portos e Aeroportos, na semana passada, para ser ressarcida dos valores necessários para recolocar a pista do Aeroporto Salgado Filho, alagada no início de maio, em operação. Há um ponto de interrogação que reforça aos temores. Tratam-se de R$ 291,7 milhões ainda em aberto, referentes aos prejuízos da pandemia, cuja forma de pagamento ainda carece de definição por parte do governo federal.
Ainda que na Alemanha, conforme o noticiado pela coluna, haja movimento de acionistas pela repartição dos prejuízos, a situação estabelecida a partir da enchente de maio em Porto Alegre reforça um contexto de mercado, não apenas no Brasil, e que começa, justamente, no primeiro semestre de 2020, com as medidas restritivas necessárias ao enfrentamento da Covid-19.
De lá para cá, após 36 meses de aumento na demanda, a aviação mundial não reconquistou os níveis anteriores ao evento sanitário. Aqui, onde em 2023 houve alta de 15% na demanda, a situação preocupa o desempenho.
A presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, Jurema Monteiro, explica que a pandemia interrompeu o transporte aéreo internacional. No país, as consequências, hoje, modulam o mercado e a crise no RS (a oitava maior demanda do Brasil, com quase 6 milhões de passageiros em potencial) encontra um setor “muito desafiador” e abatido.
Isso acontece, comenta, porque há fatores que mantêm custos pressionados. O resultado: em cada empresa aérea a situação é diferente, mas todas enfrentaram um endividamento alto, provocado pelos anos de pandemia, em razão da disparada de preços.
– Os principais custos são dolarizados. O câmbio valorizou mais de 20% entre 2019 e 2023. Esse impacto repercute na malha nacional e a crise no RS tem efeito extensivo ao mercado – diz.
A executiva lembra que após a pandemia, aconteceu a guerra da Ucrânia, o que reforçou o impacto para os mercados de dolarizados. Juntos, avalia, esses elementos fazem com que o cenário da aviação civil no Brasil seja, outra vez, afetado pela crise no Rio Grande do Sul.
– Isso vem no momento em que a gente estava olhando para o futuro, na perspectiva de voltar a crescer. Até o ano passado só o que se conseguiu foi retomar o que era. A gente estava de 20224 em diante com a expectativa de crescimento de espaço que precisa de um debate sobre crédito para investimento nas companhias aéreas e, mais do que nunca, isso vai ser importante para que as empresas tenham recursos para atrair mais aeronaves e voar mais no país – acrescenta.
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