Na primeira disputa de chapas para a presidência da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) em 38 anos, o vencedor - por um voto - foi Claudio Bier, atual presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas Agrícolas (Simers). A posse será em julho, mas ainda não tem data marcada, disse Bier nessa rápida entrevista à coluna feita logo após o anúncio do resultado. O futuro dirigente confirmou a disposição de adotar um diretor-executivo para a entidade, para se dedicar a "questões mais políticas". A eleição teve de ser em formato virtual porque a sede da Fiergs ainda está alagada pela inundação.
Como é assumir esse desafio em um cenário em que até a sede da entidade está embaixo d'água?
Estivemos em Brasília, na ABDI, e nos foi prometida ajuda para recuperar a casa. Agora, nós também estamos desabrigados. Mas temos de olhar para o nosso pessoal. Há muitas indústrias com problemas no Estado, algumas debaixo d'água, outras com os funcionários embaixo d'água. E as que não estão nessas situações têm problemas de logística, não conseguem receber matéria-prima nem entregar produtos prontos.
Qual é a expectativa de ajuda para a indústria?
Dinheiro rápido do BNDES. Não pode ser repasse a outros bancos, porque se for assim, não chega com rapidez. Precisamos de juro zero. Se não for possível, um juro camarada, subsidiado, e que as empresas possam pagar com no mínimo três anos de carência, para poderem recomeçar. Isso é principalmente para as pequenas e médias empresas. As grandes também precisam de ajuda, mas têm outros meios, não necessitarão tanto da Fiergs.
Leitores comentam que os empresários, que defendem o Estado mínimo, agora pedem ajuda ao Estado. É mesmo a fonte de toda a ajuda?
Sim, porque é o grande arrecadador, principalmente Brasília, que concentra toda a verba do país. O Estado tem de ajudar, o BNDES tem de olhar, sim, para as pequenas e médias indústrias do Estado.
Como sua vitória foi por um voto, a entidade sai da eleição dividida?
Acho que não. Passado esse episódio da eleição, vamos conversar com todo mundo, vamos colar os cristais. A indústria do RS não vai ficar dividida, ainda mais em um momento como este, em que todos têm de juntar forças. Agora todos precisam lutar juntos, não é hora de briga, é hora de união. O candidato perdedor já passou aqui, me cumprimentou no final. Hoje almoçamos no Juvenil, um dos candidatos a vice da outra chapa estava na minha mesa.
Que diferenças pretende adotar em seu mandato?
Sou grande amigo do Petry (Gilberto, atual presidente), ele fez uma administração maravilhosa. Mas temos estilos diferentes. Ele sempre gostou de concentrar tudo nele. E trabalhou muito, porque concentrava. Quero dividir as tarefas com os vice-presidentes. Até porque agora haverá mais tarefas. E para a administração, teremos um diretor-executivo, para que o presidente tenha mais tempo para fazer a parte da política. A Fiergs é uma entidade politica. Precisamos de um presidente que consiga trabalhar e conversar com todos os partidos. Na última visita do presidente Lula ao Estado, fui convidado pelo ministro Paulo Pimenta. Estava sentado na primeira fila, fui chamado para o palanque. É uma honra muito grande. Tive um bate-papo com o presidente, sempre pedindo coisas para a indústria do Estado. Cada um tem a sua cor partidária, mas líder de sindicato empresarial e eleito presidente da Fiergs tem de deixar as cores de lado e pensar no todo.