A pergunta do título circula entre integrantes de governo e especialistas desde que a enxurrada voltou, e com força destruidora disseminada: vamos reconstruir cidades onde as águas já as varreram mais de uma vez?
A mais posicionada foi a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que foi definitiva: ao colega Gabriel Jacobsen, afirmou que algumas das localidades engolidas pelas águas não devem ser reconstruídas nas mesmas áreas, sob pena de serem destruídas em breve durante um novo evento climático extremo. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já afirmou, quando esteve em Porto Alegre no dia 5 de maio, ao alertar para a necessidade de aplicar prevenção já na reestruturação depois da tragédia:
— As cidades não podem permitir a reconstrução no mesmo local em que as casas caíram.
O governador Eduardo Leite também já manifestou, de maneira menos enfática, a necessidade de reavaliar a localização de alguns núcleos urbanos. Adiantou, por exemplo, ter solicitado que o levantamento de impacto da Defesa Civil inclua a identificação de localidades que possam eventualmente não ter mais população fixa.
Algumas cidades já avaliam trocar bairros - obviamente, os mais atingidos - de lugar, sem abandonar definitivamente a localização. Mas será o suficiente? Existe o risco de reconstruir e, no próxima tempestade extrema, perder tudo de novo - como ocorreu com muitas famílias do Vale do Taquari.
Além de um enorme sofrimento para as famílias que passam por esse tipo de experiência, a repetição da destruição será um grande desperdício de dinheiro, em um tempo que exige enormes volumes de dinheiro para reconstrução. A quantia ainda é imprecisa, mas já se tem uma dimensão: será na casa de muitas dezenas de bilhões de reais. É importante saber o tamanho para organizar a resposta a esse desafio.
Obviamente, essa não é uma decisão que possa ser tomada de forma apressada. Precisar ser baseada em grande quantidade de dados, que vão da hidrologia à geologia, passando pela meteorologia. Mas é preciso ter consciência que chegou a hora de discutir essa possibilidade que simplesmente não estava em qualquer cenário até setembro de 2023.
Já existem estudos sobre a vulnerabilidade climática dos municípios, que a coluna ainda vai abordar com maior profundidade. É um ponto de partida para fazer essa avaliação que, por mais dolorida que seja, precisa começar. É importante lembrar, cidades inteiras já mudaram de lugar para a construção de hidrelétricas, por exemplo. Não será algo inédito.
PARA LEMBRAR: na urgência dos próximos dias e para a reconstrução nos seguintes, será necessária toda a ajuda disponível e mobilizável, por menor que seja. Se for grande, melhor ainda. Se puder, por favor, contribua. Saiba como clicando aqui.
*Colaborou João Pedro Cecchini