O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Um fato movimentou o tabuleiro de embates entre o governo do Estado e as entidades empresariais do Rio Grande do Sul, na manhã de ontem, quando Eduardo Leite compareceu à tradicional reunião almoço da Federasul.
Leite não deixou o público, que compareceu em massa ao Tá na Mesa, de estômago vazio. Acenou com flexibilizações, mas não mexeu na base dos decretos que retiram incentivos tributários de 64 setores da economia gaúcha, a partir de abril.
Nas últimas semanas, o discurso do governo incluiu a palavra “negociação”. Ainda que não se abra em quais pontos, o termo aparece no alinhamento das nas falas de representantes do Executivo gaúcho. O problema é que as lideranças empresariais ainda prefeririam ouvir: “prorrogação”.
A participação do governador, sobretudo, as respostas da entrevista coletiva pós-evento deixam no ar uma evidência fundamental: a dívida do Estado – motivo pelo qual é necessário garimpar receitas – continuará impagável, com ou sem os decretos.
É neste ponto que se estabelece a cizânia entre governo em setor produtivo e a relutância massiva das entidades.
Em 2018, quando chegou ao Palácio Piratini, o governador pediu um sacrifício para que em dois anos implantasse reformas, privatizações e enxugasse a máquina pública. Teve o aval dos empresários e assim o fez. Agora o cenário é distinto e faz lembrar uma passagem da mitologia.
No início da Guerra de Troia, Agamenon é obrigado a fazer um sacrifício para que os Deuses enviassem ventos, condição necessária para mover a armada grega – liderada por ele – pelos mares até o destino pretendido. É como se Leite fizesse o mesmo. A diferença é que admite, de antemão, que os ventos não virão, a despeito do sacrifício.
No meio do caminho há uma ilha. O presidente Lula estará no Estado sexta-feira. É deste encontro que poderá sair alguma sinalização para içar ou não velas e, sobretudo, qual o tamanho do sacrifício demandado.