O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
No dia em que a inflação da Argentina voltou a desacelerar, fechando em 13,72% no mês de fevereiro, o governo de Javier Milei dá mais uma cartada – fruto de uma engenharia – com tanta probabilidade de gerar benefícios quanto de interromper o ciclo de menor descontrole nos preços ao longo do primeiro bimestre. Se der certo, a ideia é que possa desafogar a retenção de divisas e descomplicar um pouco o pagamento de importações, uma situação que afeta muitos exportadores brasileiros, a maior parte do Rio Grande do Sul.
Na segunda-feira, o ministro da Economia na Argentina, Luís Caputo, colocou em leilão títulos públicos com vencimento para 2025 no mercado. A oferta encerrou ontem e o balanço será conhecido na quarta-feira. A ideia é que os papeis sejam usados para substituir os que teriam vencimento ainda este ano.
Traduzindo: Milei quer recomprar a própria dívida de curto prazo. Para isso, vai usar títulos do governo com prazo alongado. A remuneração será atrelada à inflação que, atualmente, supera os 276% em 12 meses no país vizinho.
Na prática, isso equivale a emitir dinheiro. Mas aí está o pulo do gato: 70% dos papeis estão nas mãos do próprio poder público. É uma forma de rolar a dívida, mas com o diferencial de que o instrumento não teria tanta liquidez no mercado, uma vez que ficaria retido com os bancos, fator responsável por reduzir os impactos inflacionários. Pelo menos é essa a expectativa do governo.
A ideia é justamente mitigar US$ 68 bilhões da dívida em pesos, cerca de 54 trilhões. Caso de certo, o plano prevê a abertura de algum espaço para gastos em dólar. Vale lembrar, a situação estabelecida nas fronteiras em que os pagamentos aos produtos vendidos estão a perder de vista, é dada pela necessidade de formação de reservas internacionais para garantir as dívidas, hoje praticamente, inexistentes. Representante de um dos setores que mais exportam para a Argentina antecipa à coluna que atualmente a demora para os pagamentos é desconhecida e que o problema mesmo é de demanda: o pouco dinheiro nas mãos da população é usado para o consumo de alimentos.