Terminou a etapa diplomática do G20 no Rio, mas São Paulo será palco, na próxima semana, de outro encontro preparatório, desta vez com a participação de ministros de Finanças. Assim como o chanceler brasileiro Mauro Vieira foi o anfitrião da primeira etapa, caberá a um já assoberbado ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fazer as honras da casa.
Além de receber todos os participantes, Haddad terá uma reunião bilateral com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, que pode ser considerada a mulher mais poderosa da economia, tanto pelo orçamento que administra quanto pelo alcance global de suas decisões. Os dois têm uma dor de cabeça em comum: o pesado déficit nas contas públicas.
Se Haddad respira um pouco mais aliviado depois da arrecadação recorde de janeiro, sabe que o jogo da meta de déficit zero está só começando. Nos Estados Unidos, o recorde é da dívida que Yellen tenta administrar, causado por sucessivos déficits primários. No início deste ano, o endividamento americano chegou a inéditos US$ 34 trilhões, ao redor de 120% do PIB.
É verdade que Yellen tem o poder de rodar a máquina de dólares que Haddad não tem, mas a dívida americana, que sempre foi alta, chegou a um nível que começa a provocar inquietações, além de recorrentes polêmicas parlamentares para elevar teto sob pena do shutdown - a paralisação de serviços públicos.
Outra preocupação comum dos dois ministros de finanças - guardadas as proporções das encrencas que administram e a nomenclatura dos cargos - é a inflação e o ritmo da redução do juro. Nos EUA, os preços médios cederam, mas ainda não o suficiente para dar conforto ao Federal Reserve (Fed, o banco central do país) para um corte mais afiado. A grande expectativa de que as lâminas estejam em preparação é mais focado na necessidade de reduzir a remuneração dos títulos públicos americanos para reduzir a pressão sobre a dívida.
Há expectativa, ainda, de que Yellen fale uma palavra mágica: "friendshoring", que representa o deslocamento da produção para abastecer os Estados Unidos de outros países - especialmente, a China - para nações amigas. Até agora, o país de Biden tem focado mais no "onshoring", ou seja, levar a fabricação de volta para casa. E entre os amigos para o "friendshoring", obviamente o México está sendo mais beneficiado do que o Brasil.