Os sinais do excesso de oferta de aço no mercado global já haviam provocado efeitos nos números da Gerdau ao longo do ano passado e se materializaram em queda de 34,3% no resultado da companhia de raiz gaúcha no consolidado de 2023.
Embora os negócios da América do Norte sigam robustos, a piora no desempenho no Brasil e na América do Sul rendeu números menos consistentes do que no ano anterior, mas ainda muito acima da média, de lucro líquido R$ 7,54 bilhões.
Nesta quarta-feira (21), ao apresentar os dados em detalhes, o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, disse que a empresa já fez cerca de mil demissões nos últimos meses e fez um apelo dramático ao governo brasileiro, dizendo ver "indecisão" em tomar medidas de proteção comercial ao setor de aço, como já fizeram Estados Unidos, México e União Europeia.
— A redução na velocidade de crescimento da China enfraqueceu o setor de infraestrutura e de construção residencial, fortíssimos consumidores de aço. Isso provocou desbalanceamento entre oferta e demanda, o que fez o governo chinês subsidiar o excedente de oferta de aço, afetando países que não adotaram medidas de defesa comercial contra práticas predatórias — afirmou Werneck.
Conforme dados apresentados pela Gerdau, a penetração de aço chinês no Brasil já chega a quase um quinto - mais exatamente, 18,4%. A importação do produto da China duplicou entre 2020 e 2023. Esses dados, classificou o executivo, são "chocantes" e exigem medidas "legais e apoiadas pela Organização Mundial do Comércio":
— A indecisão do governo na implementação de medidas de defesa comercial já impacta o setor e a operação da Gerdau, com fechamento de unidades produtivas e redução de empregos, trocados por empregos na China.
Há poucos dias, reforçou, houve mais uma centena de demissões na unidade de Pindamonhangaba (SP), cidade de origem do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin.
— São pessoas altamente treinadas e capacitadas, mas não foi possível dar continuidade a suas carreiras dada a necessidade de reduzir capacidade produtiva no Brasil — afirmou Werneck.
No início do mês, houve pequenos aumentos nas tarifa de importação de aço, ao redor de dois pontos percentuais. No entanto, esse pequeno ajuste não foi suficiente, conforme o setor. Ao comentar a manutenção de previsão de um investimento elevado neste ano, de R$ 6 bilhões, Werneck afirma que a companhia não avalia que até agora há motivos para desinvestir no Brasil, mas advertiu:
— No futuro, podemos decidir investir mais em países como o México do que investir no Brasil. A gente tem expectativa de que possa implantar essa medida de proteção comercial em breve, mas está surpreendido com a demora do governo em agir.