Maior produtora de aço brasileira e uma das maiores do mundo, a Gerdau teve lucro líquido ajustado de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre, o que representa queda de cerca de 47% em relação ao mesmo período no ano anterior, quando o resultado líquido havia sido de R$ 3 bilhões. Em relação ao período anterior, de R$ 2,1 bilhões na última linha do balanço, também houve redução.
Como principal razão para o resultado, a companhia aponta o crescimento das importações de aço no Brasil. Conforme o Instituto Aço Brasil, a entrada no país avançou 57,9% entre janeiro e setembro em comparação com igual período de 2022, somando 3,7 milhões de toneladas. Isso fez com que a taxa penetração de importações no mercado nacional - ou seja, quando do mercado foi abastecido pelo Exterior, atingiu recorde de 23% em setembro.
— O mercado brasileiro foi fortemente afetado por uma entrada excessiva de aço importado, principalmente da China, movimento que segue ocorrendo neste quarto trimestre e que demanda medidas de correção urgentes por parte do governo federal — destacou Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, em apresentação a um grupo de jornalistas nesta terça-feira (7).
Segundo ele, o setor do aço emprega cerca de 3 milhões de pessoas no Brasil, entre vagas diretas e indiretas. Dada a "invasão" de aço chinês, admite, já há demissões no país. A própria Gerdau desligou cerca de 700 colaboradores diretos em razão do aumento da importação.
O CEO da Gerdau afirmou que o mercado brasileiro deve registrar volume recorde histórico de importação de aço, chegando a 5 milhões de toneladas em 2023. Além da China, também vem aço de Rússia, Turquia e Coreia do Sul, entre outros países. O recorde anterior de importação de aço no Brasil ocorreu em 2010, quando o volume chegou a 4,4 milhões de toneladas no ano. Se for considerada a importação indireta de aço, o volume total em 2023 deve chegar a 10 milhões de toneladas.
— A competição com o aço asiático é injusta dentro das práticas normais de mercado, uma vez que os preços praticados são inferiores aos custos de produção. Como metade desse volume de produto importado tem como origem a China, que exporta com práticas desleais e predatórias de comércio, se torna urgente a elevação temporária das tarifas de importação para 25% por parte do governo federal no curto prazo, de forma a assegurar a sustentabilidade e a competitividade do setor do aço nacional — reforçou Werneck, destacando que medidas similares já foram tomadas na Europa, nos Estados Unido e no México.
Segundo o executivo, a indústria do aço no Brasil é muito competitiva e está atualizada, mas é "impossível" competir com esse aço chinês que chega no Brasil em condições desleais. Outros países adotaram medidas e tarifas para frear a invasão do aço chinês, como o México, que tem condições parecidas com as do Brasil, e recentemente implantou uma tarifa de 25%. Conforme Werneck, a quantidade de aço que o Brasil produz em um ano inteiro é feita na China em apenas 11 dias.
Apesar do temor da concorrência chinesa e da redução do lucro, é bom destacar que o resultado da última linha ainda é bilionário. Segundo Rafael Japur, diretor financeiro da Gerdau, se o ano fosse encerrado no nove meses acumulados até aqui, seria o terceiro melhor ano da história da companhia. Os investimentos da companhia alcançaram R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre, dos quais R$ 723 milhões em manutenção e R$ 762 milhões em projetos de expansão e atualização tecnológica. Para 2023, há previsão de R$ 5 bilhões.
* Colaborou Mathias Boni