Para explicar à coluna porque as queixas sobre a importação online - leia-se compras de sites estrangeiros - subiram tanto de tom, o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, citou um dado: a entrada de vestuário e produtos têxteis, que somava R$ 3 bilhões em 2016, chegou a R$ 22 bilhões em 2022.
Segundo Pimentel, investimentos de algumas dessas empresas no Brasil - como as encomendas da Shein a grandes indústrias têxteis - são bem-vindos, mas o segmento cobra o mesmo tratamento para os produtos fabricados aqui dentro e lá fora.
— Em um ano em que varejo não está bom, temos importações que acumulam crescimento de sete vezes nos últimos seis anos — detalha.
É nesse momento tenso para o segmento que a indústria têxtil brasileira prepara a oitava edição de Congresso Internacional em Florianópolis, nos próximos dias 8 e 9. Um dos temas será exatamente o chamado "varejo em altíssima escala", que cresceu muito durante a pandemia. Pimentel observa que esse salto na importação foi determinado por decisão dos consumidores:
— Há uma migração do convencional para o digital, e ainda antes de o varejo se atentar para isso, já vínhamos trabalhando e conversando com o governo sobre esse novo formato crescente. É irreversível, é um desafio mundial e também para o Brasil.
Na avaliação de Pimental, o programa Remessa Conforme, que hoje isenta de impostos as compras em sites estrangeiros de até US$ 50, é "positivo", porque vai dar informações que não eram obtidas até então: o que está vindo, de onde e para quem.
— O que não é positivo é ter isenção de Imposto de Importação, IPI, Cofins, de produtos que vêm de fora para cá. Isso desbalanceia a concorrência, por isso é um assunto primordial. A grande explosão desse comércio cross border (que cruza fronteiras) se deu no ano passado. Temos de utilizar ferramentas para levar produtos brasileiros por essas plataformas também.
Entre os produtos brasileiros que poderiam disputar mercado global, aponta Pimentel, estão jeans, a moda praia e fitness, que poderiam ser reforçados pelo fato de o país ter uma matriz energética já bastante descarbonizada. Em jeans, destaca, o país tem a quarta ou quinta maior fatia no mundo. Por isso, afirma que o tema ambiental deve ser usado para catapultar a produção nacional lá fora:
— Todos os que vierem investir no Brasil serão muito bem-vindos, até porque o país não é fácil, especialmente no âmbito empreendedor. Poderíamos ser muito melhor do que somos, com menos insegurança jurídica e melhor infraestrutura. Queremos e precisamos de muitos investimentos. A reforma tributária em curso tem um problema, que é o excesso de excepcionalidades, mas não abre uma janela, abre avenidas de oportunidades. Se tivermos isonomia tributária e concorrencial, temos um forte trabalho de anos para melhorar a produtividade e ganho de eficiência.