Na maior crise da história recente da Argentina até agora, entre 2001 2003, o país conviveu com 14 moedas alternativas além do peso e do dólar, das quais a mais famosa foi o patacón. Na crise atual, que o próprio presidente, Javier Milei, já avisou que vai piorar antes de melhorar, já surgiu a primeira - ao que se sabe - moeda alternativa versão 2024: El Chacho.
A "quase moeda", como é chamada por lá, foi emitida pelo governador da província de La Rioja, o peronista Ricardo Quintela, principalmente para pagar servidores. Milei ironizou a iniciativa dando a "bienvenida" à concorrência de moedas, mas avisou que não irá ajudar os governos provinciais a resgatar as promessas de pagamento representadas por esse instrumento.
O instrumento se chama, oficialmente, Bonus de Cancelamento de Dívida (Bocade - o "e" vem de deuda, em espanhol), mas é chamado de El Chacho na informalidade, uma referência a Ángel Vicente Peñaloza, militar de La Rioja que atuou na Guerra do Paraguai.
Assim que assumiu a presidência, Milei determinou o corte de recursos federais discricionários (não obrigatórios) às províncias que o governo anterior vinha fazendo periodicamente. Sem recursos e com muitos compromissos, La Rioja pode estar abrindo caminho para uma nova onda de moedas alternativas.
Como se define como anarcocapitalista, Milei disse ainda que não vai proibir, mas relativizou - assim como faz o Congresso argentino com seu Decreto de Necessidade e Urgência - a real premência de emtir moeda alternativa. Disse que o déficit do governo central da Argentina teve de enfrentar a correção de um déficit de 15% do PIB, enquanto todas as províncias juntas somam 1%.
— Bem-vindas as moedas provinciais à concorrência, mas quero frisar que, diferentemente do que ocorreu no passado, de nenhum modo vão ser resgatadas pelo governo nacional — disse Milei ainda na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial.
A onda anterior de moedas alternativas na Argentina se seguiu à decretação do corralito, a restrição de recursos determinada pelo então ministro da Economia Domingo Cavallo, que por sua vez foi a gota d'água para a queda do então presidente Fernando de la Rúa. Caso a emissão de moedas provinciais se dissemine, pode trazer problemas para o acordo celebrado pela Argentina com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que já incluiu a exigência de eliminação desses instrumentos como condição para o socorro ao país.