No dia seguinte ao anúncio das 10 primeiras medidas econômicas do governo Milei, os argentinos buscam detalhes sobre a implementação efetiva dos planos de ajuste. Apesar de explicitar a megadesvalorização - o peso vai de perto de 400 para 800 pesos - e outros nove pontos, falta detalhar o que já foi comunicado de forma genérica.
E também ainda há expectativa sobre as medidas que dependem do Congresso, caso das privatizações já anunciadas pelo novo presidente, que ficaram fora da lista da véspera.
Para exportadores gaúchos, os primeiros anúncios embutiram uma boa e uma péssima notícia, como a coluna já havia relatado. Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, avalia que não adianta eliminar as licenças prévias, como anunciou Caputo, se os produtos brasileiros vão praticamente dobrar de valor com a elevação do dólar de cerca de 400 para 800 pesos. E lembra, ainda, que esse novo valor do dólar oficial não inclui o aumento de imposto destinado ao programa social Por uma Argentina Inclusiva e Solidária (Pais). Isso pode significar que o custo efetivo dos produtos brasileiros suba ainda mais do que 100%.
— Câmbio a 800 pesos só é bom para turistas. Nosso produto passa a ser menos competitivo. A eliminação das licenças prévias não compensa nem de longe, porque nosso produto vai ficar menos competitivo.
Ferreira disse que ainda não há uma avaliação sobre o impacto da megadesvalorização nas exportações, porque ainda faltam detalhes sobre o percentual de aumento de imposto, e se vai incidir de fato sobre as importações.
— Hoje é só o dia 3. Vamos ver como vai acontecer.
Na manhã desta quarta-feira (13), coube ao porta-voz Manuel Adorni precisar que a mudança no sistema de subsídios às contas de luz, gás e no transporte público passará a vigorar em 1º de janeiro - dentro de 18 dias, portanto. Mas segue sem definição o que quer dizer exatamente "reduzir". Analistas discutem hoje se será uma diminuição gradual e parcial ou pode ser uma "redução de 100%", porque o aceno anterior era de eliminação completa desses repasses que aliviam o bolso dos consumidores.
No capítulo das medidas que chegaram a ser mencionadas por Milei, como as privatizações, mas não apareceram no anúncio de terça-feira (12) porque dependem de aprovação do Congresso. Economistas argentinos que comentam as medidas no dia seguinte têm afirmado que, pelo que já foi anunciado, o grande alvo do pacote de urgência econômica não é casta, ou seja, a elite política tão criticada por Milei na campanha, mas "la gente", ou seja, a população.
Nesta quarta-feira (13), há uma reunião do Banco Central da República Argentina (BCRA) com todas as instituições financeiras do país para detalhar a nova operação do câmbio, ainda antes da abertura de mercado. Também há previsão de reuniões de Caputo com segmentos-chave da economia argentina. No anúncio das medidas, o ministro da Economia repetiu Milei ao afirmar:
— Por alguns meses, vai ficar pior do que antes, principalmente em relação à inflação. Como diz o presidente, é melhor uma verdade que incomoda do que uma mentira confortável.
As contas, agora, são para descobrir quão pior vai ficar "por alguns meses".
As medidas anunciadas
- Desvalorizar o peso à metade, de 400 para 800 por dólar
- Não renovar os contratos públicos com menos de um ano de prazo
- Suspender por um ano os anúncios do governo
- Redução dos ministérios e dos cargos inferiores em 34% no total
- Não licitar obras públicas e cancelar as já aprovadas que não tenham começado
- Reduzir ao mínimo as transferências do Estado às províncias
- Reduzir os subsídios às tarifas de energia e transporte
- Duplicar dois planos sociais para baixíssima renda, mas manter um terceiro com valores de 2023, ou seja, valerão menos da metade dada a inflação de 140% no ano
- Reformar o sistema de importações (Sira), sem exigir licença prévia
- Aumento de impostos de exportação, que serão eliminados depois do fim da "emergência econômica"