O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
As eleições na Argentina também movimentam o racha político brasileiro. O Bolsonarismo está representado em Javier Milei e o Lulismo, em Sergio Massa, mesmo que ambos gerem risco às relações com o Brasil, em maior ou menor escala.
A retirada da Argentina do Mercosul, defendida por Milei, prejudicaria o comércio exterior, uma vez que os vizinhos são o terceiro maior parceiro do país. No Estado, o impacto seria maior, já que é a segunda nação que mais compra produtos do RS.
Na outra ponta da balança, é o histórico de Massa o que pesa. Vendas à Argentina renderam superávit de US$ 2,2 bilhões ao Brasil, em 2022. Essa cifra, em 2017, era três vezes superior: chegava a US$ 8,1 bilhões. Em 2023, até setembro, o saldo é positivo em US$ 4,5 bilhões, apesar das barreiras avalizadas pelo Mistério da Fazenda argentino, comandado por Massa, na tentativa de frear a inflação em descontrole.
Doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), onde leciona desde 2002 e Economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala lembra que o Brasil teria ensinamentos à Argentina, não no âmbito político, mas monetário. A afirmação ganha força, pois o tema dominante na eleição é a dolarização da economia, defendida por Milei.
É tão polêmico quanto difícil e os riscos envolvem dramatizar ainda mais a situação. Gala explica que a desorganização da economia argentina exigirá a troca da moeda. Ele acredita que isso ocorra após as eleições em um contexto de forte ajuste fiscal.
O ponto, diz, seria reproduzir o balizador da implantação do Plano Real, em 1994. Diferentemente da dolarização, pretendida por Milei, o Real foi fundamentado na superindexação da economia. Trocando em miúdos, os preços foram indexados à nova moeda, durante a transição, momento em que a Unidade Real de Valor (URV) foi pareada ao dólar, para dar início ao regime de câmbio com desvalorização fixa de 6% ao ano.
O truque, argumenta o economista, é colocar um indexador (URV) atrelado ao câmbio (dólar), convencer as pessoas a usá-lo e então transformar o indexador em moeda para permitir a migração para um regime de câmbio mais flexível. Funcionou no Brasil e é mais viável do que dolarizar a economia com tudo o que isso representa, complementa.
Enquanto a contagem das urnas intensifica o duelo argentino, inclusive com alerta de bomba na Casa Rosada, o melhor resultado, para o Brasil, seria o capaz de diluir a crise e fortalecer as relações com os vizinhos.