Na última semana, o Banco Central da República Argentina (BCRA) impôs mais restrições ao dólar, algumas com impacto direto no Rio Grande do Sul.
Uma das medidas, válida até o fim de outubro, inclui a importação de remédios, derivados de petróleo e alimentos - entre outros produtos - na lista que precisa de autorização prévia do sistema de importações do país. Para os gaúchos, já afetados pela crise no país vizinho, é mais um risco de atraso no pagamento ou barreira aos negócios.
O caso mais explícito é o da Conservas Oderich, que exporta comida em lata para a Argentina e tinha alguns produtos ainda com garantia de pagamento imediato.
— Para o que ainda não temos licença, seguramos um pouco a produção, pois não sabemos como vai ser nas próximas semanas, já que a eleição na Argentina pode ainda ter um segundo turno em novembro. Para o que já tínhamos licença, estamos produzindo. Essa situação só irá se normalizar depois das eleições — afirma Marcos Oderich, diretor da empresa.
Nesta semana, a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) informou que as exportações industriais gaúchas caíram 21,6% em setembro - em parte, por efeito dos problemas de vender à Argentina.
— É mais um empecilho para exportar à Argentina, como foi na questão dos prazos de pagamento. Dos produtos exportados pelo Rio Grande do Sul, o maior impacto é mesmo na área de alimentos, já que produtos da indústria automotiva não entraram, por exemplo — complementa o economista chefe da Fiergs, Giovani Baggio.
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) também manifesta preocupação com a mudança. Mesmo que a Argentina seja neste ano a principal importadora de calçados gaúchos, o número de pares exportados para o país entre janeiro e setembro deste ano caíram cerca de 12% em comparação com o mesmo período em 2022.
— A Argentina é um grande parceiro comercial do Brasil e do Rio Grande do Sul, principalmente para os calçados. Mesmo antes das novas medidas anunciadas, sofremos com uma mais demora na emissão das licenças necessárias para a importação nas últimas semanas, o que já se refletiu nos nossos números de exportação em setembro e também, certamente, em outubro — afirma o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
Outra preocupação em relação ao futuro das exportações gaúchas aos vizinhos reside na proposta de dolarização da economia argentina defendida pelo candidato apontado pelas pesquisas como favorito à eleição presidencial, Javier Milei. Conforme estudo recente do Instituto Internacional de Finanças (IIF), a medida, se de fato colocada em prática, provocaria forte redução das importações por parte dos argentinos.
— É preciso saber se é realmente factível, e se teria o apoio necessário para ser aprovada e aplicada na prática. Caso venha realmente a ocorrer, a economia argentina passaria por um período de ajuste muito grande, podendo agravar a crise que já enfrentam. Para as nossas exportações, ao menos no primeiro momento, também não seria favorável — ressalta Baggio.
* Colaborou Mathias Boni