Oito meses depois que o "evento Americanas" explodiu, um ex-executivo atribui responsabilidade aos três sócios bilionários da empresa. Miguel Gutierrez, que era CEO na época da exposição do "sumiço" de R$ 20 bilhões, afirmou, em depoimento por escrito à CPI que apura o caso, que "todas as decisões estratégicas na história do grupo, inclusive nos últimos anos, foram tomadas pelos controladores".
Os controladores, como se sabe, são Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, que em janeiro passado, quando estourou o escândalo, eram os mais ricos do Brasil.
Em nota (leia a íntegra abaixo), a Americanas "refuta veementemente as argumentações de Gutierrez". O depoimento do ex-CEO confirma as especulações da época, de que, dos três, Sicupira era o mais diretamente envolvido na gestão da Americanas:
"Sicupira era por mim participado de todos os assuntos relevantes que fossem de meu conhecimento".
Afirmou, ainda, que teria sido escolhido como "bode expiatório" do escândalo:
"Me tornei conveniente ‘bode expiatório’ para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro".
E ainda sustenta que a manobra visaria proteger os "acionistas controladores":
"A acusação contra mim formulada pela Americanas, além de falsa, é claramente enviesada, produzida com o objetivo de induzir o mercado e as autoridades investigativas a erro. Confio, assim, que esta CPI não se deixará enganar por esta clara manobra da Americanas para proteger seus acionistas controladores."
O estilo de gestão do trio é descrito dessa forma pelo ex-CEO:
"Como em todas as suas companhias (do trio), havia uma intensa pressão por resultados positivos, controle rígido de despesas (mediante "aperto" comercial em cima de fornecedores) e incentivo ao "fanatismo" de seus executivos e funcionários pelo trabalho incessante. Eu nunca soube, porém, que essa pressão teria levado a atos de manipulação da contabilidade."
A carta foi enviada na sexta-feira passada (1º) à CPI que buscava apurar responsabilidades. Na segunda-feira (4), foi entregue o relatório final que afirma não ter sido possível "imputar a respectiva responsabilidade criminal, civil ou administrativa a instituições ou pessoas determinadas". Além da CPI, o caso está em investigação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Justiça no Rio e em São Paulo.
A íntegra da nota da Americanas
A Americanas refuta veementemente as argumentações apresentadas pelo senhor Miguel Gutierrez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na véspera da apresentação do relatório final. A companhia reitera que o ex-dirigente da Americanas não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à Comissão no dia 13 de junho, que demonstram a sua participação na fraude.
A Americanas reitera que o relatório apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito em 13/06, baseado em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela Administração e seus assessores jurídicos, indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez.
A Americanas confia na competência de todas as autoridades envolvidas nas apurações e investigações, reforça que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.