Como estava previsto desde a terça-feira (15), quando a Petrobras anunciou aumento de 25,8% no diesel e 16,3% na gasolina nas refinarias, as estimativas de inflação para o final do ano subiram.
E como sempre ocorre quando há reajustes para cima, os repasses foram rápidos e, em muitos casos, superiores à projeção técnica da alta na bomba. Como a coluna já descreveu, a gasolina impacta diretamente o resultado do IPCA, por responder por nada menos de 5% de todo o indicador, formado por milhares de itens, e o diesel acaba espalhando os reajustes por estar na base de transporte das mercadorias.
No boletim Focus do Banco Central (BC), resultado de consulta a cerca de uma centena de instituições financeiras e consultorias econômicas, a projeção de IPCA para este ano escalou de 4,84% para 4,90%. Os responsáveis pelas estimativas remetem ao BC esses dados nas sextas-feiras, que os divulga para o mercado às segundas.
Apesar de revisar a perspectiva para a inflação, o mercado ainda não vê estragos na previsão de mais três cortes no juro básico de 0,5 ponto percentual até o final do ano, que levaria a taxa Selic a 11,75%. Esse patamar, ajustado logo depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar 0,5 na reunião de 2 de agosto, segue lá, inalterado.
Mas a perspectiva de que o IPCA deste ano pudesse ficar dentro do teto da meta (4,75%) - que não era a mais frequente, embora aparecesse em algumas das "melhores casas do ramo" - foi arquivada. Até agora, a nova situação não alterou as expectativas de novos cortes na Selic de 0,5 ponto percentual em 20 de setembro (para 12,75%), 1º de novembro (para 12,25%) e 13 de dezembro (para 11,75%, onde segue a estimativa dominante para o juro de referência no final do ano).
Tem força, mesmo assim, para mudar o tom do próximo comunicado do Copom, inclusive porque outro indicador mudou de posição no Focus: o dólar saiu de R$ 4,93 para R$ 4,95, dada a alta das últimas semanas. O balanço de riscos do BC também será impactado pela decolagem dos Treasuries, os títulos da dívida dos Estados Unidos - que tocaram a máxima dos últimos 15 anos - , e as incertezas na China - nesta segunda-feira (21), o país liberou a emissão de títulos no valor equivalente a US$ 1 trilhão para rolar dívidas de entes públicos endividados.