Na semana passada, as ações da Petrobras despencaram 5,63% (ordinárias) e 5,19% (preferenciais) antes da definição da nova política de distribuição de dividendos - um espécie de distribuição de lucros entre acionistas - da companhia. É que a estatal foi muito generosa entre 2021 e 2022, quando combinou grandes lucros com alta distribuição, enchendo os bolsos dos investidores. Quando confirmou uma redução igualmente generosa, de 60% para 45%, as ações se recuperaram.
A tensão cresceu com a liberação de dados operacionais do segundo trimestre, com a alta no petróleo tipo brent, referência internacional, e com o acúmulo de defasagem nos preços dos combustíveis fixados pela Petrobras. Boa parte do mercado espera um anúncio de aumento para os próximos dias.
Em nota, a estatal não descartou reajustes (leia íntegra abaixo). Afirmou, apenas, que "eventuais reajustes, quando necessários, serão realizados suportados por análises técnicas e independentes". Na quarta-feira (1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma reunião com o presidente da estatal, Jean Paul Prates, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira - envolvidos em uma suposta disputa de poder - e toda a diretoria da Petrobras. A coluna não lembra de nada parecido na turbulenta história recente da companhia.
Em tempos de sorteio de cargos para o Centrão no governo federal, as especulações de sempre em Brasília viraram cassino sem regras. Lula estaria insatisfeito com a falta de coordenação com Silveira. O presidente da Petrobras, por sua vez, estaria incomodado com tanto pitaco na condução da empresa. Outra suposição seria de que um dos objetivos da conversa com Lula seria preparar o terreno para o exercício do que Prates havia afirmado em entrevista à coluna: não é porque o petista foi eleito que os combustíveis não vão mais subir.
Conforme a estimativa da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço do diesel no Brasil estaria 20% mais baixo do que a referência internacional, e o da gasolina, 21% (veja aqui). Pelo cálculo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), seria 22% no diesel e 30% na gasolina (confira aqui).
Essas aproximações consideram a fórmula da antiga Paridade de Preços de Importação (PPI), que foi substituída pela nova estratégia comercial da Petrobras, nome técnico dos "preços abrasileirados". A coluna já explicou que a fórmula exata não era conhecida, são tentativas de aproximação.
De qualquer forma, a PPI não está mais em vigor, e Prates teria sustentado, na reunião com Lula, que a petroleira não perde dinheiro ao segurar os preços no nível em que estão. À coluna, Prates fez críticas tanto aos cálculos da suposta defasagem, que seriam vagos, uma vez que os autores não tem acesso a dados da estatal, e até à origem dos números, por serem apresentados por segmentos que se beneficiariam com valores maiores. Mas também afirmou:
— Abrasileirar preços não significa isolar o Brasil do mercado internacional e perder a referência internacional.
A íntegra da nota da Petrobras sobre preços
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2023 – A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em relação às notícias veiculadas na mídia, informa que tem observado com atenção os desdobramentos do mercado internacional de petróleo e seu impacto sobre o mercado brasileiro. A companhia reitera que ajustes de preços de produtos são realizados no curso normal de seus negócios, em razão do contínuo monitoramento dos mercados, o que compreende, dentre outros procedimentos, análise de preços competitivos por polo de venda, em equilíbrio com os mercados nacional e internacional, levando em consideração a melhor alternativa acessível aos clientes.
Conforme divulgado em 16 de maio de 2023, a Estratégia Comercial de diesel e gasolina permite à Petrobras competir de forma mais eficiente, levando em consideração a sua participação no mercado, para otimização dos seus ativos de refino, e a rentabilidade de maneira sustentável. Os reajustes continuam sendo feitos sem periodicidade definida, evitando o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio.
Destaca-se que o momento é de grande incerteza quanto à recuperação da economia global, o que influencia diretamente a demanda por energia, e quanto à oferta de petróleo e de combustíveis, de uma maneira geral. Essa combinação, no curtíssimo prazo, levou a uma elevação dos preços de referência e da volatilidade. Ao mesmo tempo, observa-se um aumento do fluxo de combustíveis oriundos da Rússia para o Brasil.
Nesse contexto, a Petrobras tem observado com atenção os desdobramentos dos fundamentos do mercado global, assim como seu impacto no Brasil. Eventuais reajustes, quando necessários, serão realizados suportados por análises técnicas e independentes.