Quando o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do país é divulgado pelo IBGE, normalmente já se passaram cerca de dois meses do período que gerou aqueles dados. Por isso, o indicador tem foco no retrovisor, o que não significa que não tenha efeitos no para-brisa, ou seja, no panorama à frente.
Nesta segunda-feira (5), isso ficou mais claro com a forte alta nas projeções para o crescimento econômico do país neste ano. O dado, que havia começado 2023 abaixo de 1%, agora começa a se aproximar dos 2%.
Depois do pibão do primeiro trimestre que, se fosse repetido nos demais, resultaria em resultado anual de 8%, a maioria das projeções elevou de 1,26% para 1,68% a projeção de crescimento neste ano. O dado está no Boletim Focus do Banco Central (BC), que consulta certa de cem instituições financeiras ou consultorias econômicas.
Como a coluna havia observado, é um dado do passado com impacto no futuro, nesse caso sob a forma de mudança de expectativas - um dos pilares da economia. Conforme o detalhamento que o BC informa como parte do Focus, 44,4% dos consultados vê o PIB na faixa entre 1,18% e 1,7%. Outros 34,9% ainda estão no intervalo de 0,66% a 1,18%, mas 13,9% já veem possibilidade de crescimento de 1,7% a 2,22%. Essa é a quarta semana sucessiva em que as projeções para o PIB de 2023 são revisadas para cima.
Não é, como já tentou carimbar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, efeito de novas políticas públicas de seu governo - "o Brasil já está melhorando", disse na quinta-feira passada, logo depois da divulgação do PIB. Mas também mostra que o dedo do mercado está longe do pulso da economia, principalmente do fluxo que vem do campo, que pegou de surpresa quase todos os corresponsáveis pela tal "coordenação de expectativas", parte essencial do papel do BC.