Em dois meses, o acordo Mercosul e União Europeia (UE) saiu de um cronograma ambicioso que previa solução de pendências até junho para o risco de ter voltado a subir no telhado - onde esteve nos últimos quatro anos.
— Estamos reavaliando o acordo. O documento é extremamente duro e difícil — disse o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em audiência em comissão no Senado nesta quinta-feira (11).
Manobras duras fazem parte do processo de negociação, mas o tom do chanceler ficou acima do empregado usualmente nesse tipo de estratégia. A explicação de Vieira para essa virada de mesa é um documento adicional apresentado pelos europeus "entre o final de abril e o início de maio" traz exigências rígidas de compromissos ambientais, com possibilidade de aplicação de sanções ao Brasil. Por isso, a ideia é apresentar uma contraproposta aos europeus.
Considerando que o Parlamento Europeu já havia aprovado uma legislação que previa proibição de importação de produtos de áreas desmatadas, não deveria ser uma surpresa. Embora até integrantes do legislativo da União Europeia esperassem algum levantamento de barreiras ao Brasil, isso não significa que o bloco estivesses disposto a algum tipo de anistia ambiental para os candidatos a sócios.
Segundo Vieira, as condições adicionais preveem possibilidade de sanções "com base em uma legislação ambiental europeia extremamente rígida e complexa de verificação". Aumentaria, inclusive, os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris. Mas é irônico que o ambiente, uma das áreas em que o governo atual pretende se diferenciar do anterior, possa travar um acordo com ambição do UE-Mercosul.