O título deste texto não é um desejo, nem uma projeção. É mais uma constatação. As mortes de crianças entre quatro e sete anos em Blumenau são tão devastadoras que não deixa um ser humano sequer indiferente.
Diante de um trauma dessa magnitude, respostas serão cobradas. Uma terá de passar pelos instrumentos que alimentaram o horror.
E um deles, obviamente, são as redes antissociais. Especialistas já vinham alertando que os grupos de ódio mais ativos estavam migrando da deep web (aquela internet que é frequentada por quem tem algo a esconder) para Facebook, Twitter e até TikTok. Em algum momento, sentiram que havia "autorização" para transbordar discursos misóginos, transfóbicos, aporofóbicos e quetais aos fóruns abertos.
Pesquisadores mostram que sentimentos de raiva, ressentimento e revolta geram mais engajamento. E esse é o nome do jogo nas redes. Os alvos preferenciais são homens - ou meninos - brancos e heterossexuais, muitos com dificuldades de socialização. A frustração leva a horas de consumo de material tóxico que, se não desperta, acentua e ativa comportamentos agressivos.
A retroalimentação por algoritmos engorda as cifras das big techs que têm valor de mercado só comparável a PIBs de países, como uma reportagem em GZH em parceria com o colega Rodrigo Lopes mostrou já em 2020. Enquanto se tratava de política e dos limites da liberdade de expressão, poderia haver polêmica. A desumanidade que hoje abateu Blumenau - mas embute o risco de novos episódios - exige a cobrança de mais responsabilidade dessas estruturas.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo
Esclarecimento sobre a cobertura
GZH (ZH/DG/Rádio Gaúcha/Pioneiro) decidiu não publicar o nome, foto e detalhes pessoais do assassino de Blumenau. As pesquisas mais recentes sobre massacres deste tipo mostram que a visibilidade pública obtida pela cobertura da mídia pode funcionar como um troféu pelos autores, e estimular outros a cometer atos similares. A linha editorial dos veículos da RBS em outros casos recentes já vinha sendo a de não retratar estes criminosos em detalhes, noticiando apenas o nome e informações resumidas sobre eles. Ao restringir ainda mais esta exposição, medida também tomada por outros veículos de jornalismo profissional, buscamos colaborar para que os assassinos não inspirem novos atos de violência extrema como o desta quarta-feira (5).