Cada vez que ocorre um massacre em escola ou uma tragédia em qualquer lugar protagonizada por bandidos em busca de fama, nós, jornalistas, nos perguntamos como lidar com a notícia. Não é diferente no caso do pesadelo de Blumenau e não há protocolo único nem resposta de consenso. Não há como ignorar o assassinato de quatro crianças por um monstro que feriu outras e, com sangue frio, saiu da creche para se entregar à polícia.
Um ponto não deveria ser motivo de controvérsia: não se dá palco para um psicopata, publicando fotos de arquivo ou imagens da ação, porque é notoriedade que os assassinos em série buscam. Detalhes da biografia são importantes para a polícia entender a motivação dos crimes, mas não precisam ir para o horário nobre, as capas de jornais ou de sites de notícia.
Não há consenso entre os especialistas sobre a influência da divulgação de um crime na inspiração de outros celerados para fazer igual ou pior. Santa Catarina teve, em 2021, um caso parecido na cidadezinha de Saudades, onde outro assassino invadiu uma creche e matou três crianças e duas professoras. Há relação entre os dois casos? Ainda é impossível saber, mas a coincidência macabra fica a perturbar a cabeça de quem viveu e sofreu com aquela tragédia.
Qual é o tamanho da cobertura jornalística de uma tragédia como a de Blumenau? O que se aprende com um caso desses, que possa servir de lição para evitar que se repita no futuro? De novo, as respostas deixam mais dúvidas do que certezas. Não dar o nome do assassino, como alguns veículos optaram por fazer, ajuda a evitar que outros desajustados planejem atentados semelhantes? Adianta adotar cautelas na divulgação de notícias, quando a internet — sobretudo a deep web — é terra de ninguém?
Temos mais perguntas do que respostas. As autoridades encarregadas de investigar o crime terão de mergulhar nas relações do assassino e investigar suas conexões o mundo real e no virtual. Em paralelo, é urgente que os serviços de inteligência encontrem os desvãos do submundo da internet onde se planeja e se incentiva esse tipo de brutalidade, para impedir que as tragédias continuem se proliferando.
Aliás
O clichê das autoridades é pedir que Deus conforte o coração dos pais das crianças mortas, como se isso fosse possível. Mais importante é se comprometer com uma investigação séria, para que barbáries como as de Saudades e de Blumenau não se repitam.
Esclarecimento sobre a cobertura
GZH (ZH/DG/Rádio Gaúcha/Pioneiro) decidiu não publicar o nome, foto e detalhes pessoais do assassino de Blumenau. As pesquisas mais recentes sobre massacres deste tipo mostram que a visibilidade pública obtida pela cobertura da mídia pode funcionar como um troféu pelos autores, e estimular outros a cometer atos similares. A linha editorial dos veículos da RBS em outros casos recentes já vinha sendo a de não retratar estes criminosos em detalhes, noticiando apenas o nome e informações resumidas sobre eles. Ao restringir ainda mais esta exposição, medida também tomada por outros veículos de jornalismo profissional, buscamos colaborar para que os assassinos não inspirem novos atos de violência extrema como o desta quarta-feira (5).