Em dezembro do ano passado, quando havia sinais de estiagem mas também expectativa de que houvesse precipitação suficiente no momento crítico da safra de verão, a coluna expôs o problema: o PIB do Rio Grande do Sul se tornou chuva-dependente e precisa encontrar uma solução.
Nesta quinta-feira (23), o Departamento de Economia e Estatística (DEE) confirmou que o PIB de 2022 despencou 5,1%, enquanto o nacional avançou 2,9%. E dada a situação das lavouras, há risco de que haja reprise desse tombo neste ano.
Também na contramão da média brasileira, o quarto trimestre teve recuperação no Estado, com crescimento de 1,7% na comparação com os três meses anteriores e recuo de 1,3% ante mesmo período de 2021. Mas como havia perda acumulada de 6,6% nos três primeiros, não foi o suficiente para suavizar mais a queda anterior. Conforme o DEE, o resultado foi "diretamente afetado pelo resultado da agropecuária, que caiu 45,6% em 2022". Com um tombo desse tamanho, os desempenhos positivos da indústria (2,2%) e dos serviços (3,7%) foram insuficientes para evitar que o PIB despencasse.
No levantamento mais recente, a Emater-RS apontou quebra na safra atual de 41% no milho e a 31% na soja. Mesmo que as perspectivas tenham despiorado nos últimos meses, a projeção é de queda sobre queda, nada promissora. Nessa situação, as cobranças por medidas paliativas aos governos federal e estadual têm aumentado, como relata a colega Gisele Loeblein, o que é natural.
Como frisou Martinho Lazzari, pesquisador do DEE responsável pelas contas, nem todos os setores perdem quando o PIB cai - a construção avançou 5,8% no Estado em 2022, a produção de máquinas e equipamentos cresceu 12,3% e até um segmento agrícola, o do fumo teve ganhos de 11,4%, graças à "importação" de Santa Catarina. Mas também é preciso lembrar que a atividade agropecuária no Rio Grande do Sul tem uma poderosa cadeia de transmissão para todos os demais segmentos, inclusive os ligados à inovação. No Estado, muitas startups têm se desenvolvido para resolver problemas desse setor, que demanda o de serviços e, obviamente, a indústria.
É o segundo trimestre - quando ocorre a colheita da safra de verão - que concentra o efeito da chuva-dependência. Em 2022, a queda no setor agropecuário foi de 38,3% em relação aos três primeiros meses e de assustadores 65,6% na comparação com o período de abril a junho de 2021. É pela concentração de negócios nesse período que nem aparentemente robusto avanço de 43,3% no quarto trimestre consegue compensar as perdas.
No Estado, há uma lentidão que, se decorre das amarras do setor público, não está alinhada à necessidade premente de soluções - sempre no plural - para a chuva-dependência. Nessa busca, é preciso ter discernimento para diferenciar pensamento mágico - portanto não efetivo - de respostas eficientes e sustentáveis. Não é fácil, todos temos consciência. Mas é preciso acelerar o encaminhamento de respostas. É bom lembrar que o gasto - ou investimento - preventivo costuma ser mais produtivo do que o compensatório.
Segundo Lazzari, o tombo deste ano não é incontornável, porque diante da base muito baixa de 2022 - o maior impacto no valor adicionado do Estado em duas décadas - a safra deste ano pode dar um tom positivo. Mas como ainda não se conhece o resultado final nem os preços deste ano, o risco segue no horizonte. Conforme a secretária de Planejamento, Governança e Gestão, Danielle Calazans, embora as ações do Estado neste momento se concentrem em migitar e superar o impacto da estiagem, o portal público da estiagem tem objetivos de médio e longo prazo que podem evoluir para a prevenção.