Anunciada no domingo para já colher o efeito de tranquilização do mercado nesta segunda-feira (20), a aquisição do Credit Suisse pelo UBS não está produzindo o resultado esperado no Brasil.
As bolsas europeias fecharam com altas em torno de 1% - pouco acima, pouco abaixo -, Nova York opera nesse nível, mas o Ibovespa recua quase na mesma proporção. Não tem nada a ver com bancos, mas com o assunto que não sai de pauta nem com turbulência global: o suspense do marco fiscal.
Apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (17), a proposta segue patinando no Planalto. Nesta segunda-feira (20), Haddad afirmou que Lula lhe pediu para apresentar as regras do substituto do teto de gastos aos líderes no Congresso e que converse com outros economistas - que não estejam no mercado para não configurar informação privilegiada.
Ainda antes de Haddad começar a cumprir sua missão, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pediu política fiscal expansionista já neste ano, baseada na informação de que a regra teria um conceito anticíclico - aperta mais os gastos em fase de crescimento, solta mais em tempos difíceis. Mas isso vale para períodos de contração, não de baixa expansão. O próprio Lula contribuiu para o azedume, ao insistir da tese de diferença entre gasto e investimento.
— Toda vez que a gente vai discutir avanço social, vai aparecer alguém da área econômica para dizer que é gasto. Livros de economia estão superados, é preciso criar uma nova mentalidade sobre a razão de a gente governar — disse o presidente, aparentemente imbuído da intenção de mudar até os conceitos matemáticos de somar ou diminuir.
Não bastasse toda essa barulheira sobre Haddad, ainda há um seminário internacional organizado por Aloízio Mercadante, presidente do BNDES, que produz mais atrito potencial com o Banco Central (BC) ao longo do dia. Mercadante chegou a dizer que Haddad pode esperar dele "parceria e lealdade", mas foi avisando:
— Não nos peçam para deixar de dizer o que pensamos e ajudar o governo a acertar. Aquele BNDES acanhado acabou, não adianta tentar inibir o BNDES.
Sem boa vontade, é possível ler "aqui não vai ter limite de gasto". Com toda essa fumaceira, a bolsa voltou a ficar perto de romper os 100 mil pontos. Teve mínima de 100,6 mil por volta de 13h, e fechou com baixa de 1,04% - com apenas 924 pontos de "folga" para evitar a perda do marco psicológico.
Quem saiu em socorro de Haddad foi o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que publicou nas suas redes sociais a observação de que é preciso "assegurar os investimentos que precisam ser feitos, nas áreas da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura, além dos projetos sociais, mas sem deixar de lado a sustentabilidade das contas públicas".