Com o IPCA de fevereiro em 0,84%, acima da expectativa de mercado, um dos três ingredientes que poderiam favorecer a antecipação do corte de juro básico não deu sua contribuição à receita.
A inflação média mensal ainda ficou bem abaixo dos 1,01% de fevereiro de 2022, mas bastante acima da registrada em janeiro, de 0,53%. No acumulado de 12 meses, o IPCA fica em 5,6%, ainda bem acima do teto da meta de 4,75% - embora já abaixo da previsão média de mercado, de 5,9%.
Sem o ingrediente de inflação já em declínio, cresce a pressão sobre a solidez do marco fiscal que deve ser apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na próxima quarta-feira (15). Na quinta-feira (9), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que a regra já esboçada iria "agradar a todos, inclusive o mercado". Os juros futuros reagiram bem, mas a bolsa fechou em baixa de 1,3%, puxada por commodities e pelas perdas de Nova York.
O desafio não é pequeno: como observam economistas ortodoxos, a estrutura rígida do orçamento brasileiro dificulta fortes cortes de gastos. Por outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressiona por crescimento maior do que o previsto para este ano - abaixo de 1%, na média. Haddad precisa equilibrar a expectativa de um marco fiscal crível, ou seja, que projete ao menos no médio prazo a dívida pública pare de subir, com as pressões políticas do partido e de colegas de ministério por mais investimentos públicos.