Quem já não quis um sapatinho feito em uma cidade encantada chamada Gramado que era "tão bonitiiiiinho"? Uma das marcas da memória afetiva gaúcha, a Ortopé está sob risco de extinção. A atual dona do nome - resultado de negócio fechado em 2020 -, Dok Calçados, pediu recuperação judicial sob acusações de fraude (sim, parece replay).
A indústria que nasceu na década de 1950 na serra gaúcha passou das mãos do empresário Horst Volk já não existe - quebrou em 2000 - mas a marca havia ganho uma sobrevida por volta de 2007, quando foi arrematada em leilão pelo grupo Paquetá em parceria com uma empresa especializada na recuperação e comercialização de máquinas para o setor.
No pacote sob ameaça de extinção, está outra marca associada ao Rio Grande do Sul: a Dijean, desenvolvida pela antiga Azaleia, de Parobé - vendida à Dok pela Vulcabras em 2019. Era na unidade da Vulcabras Azaleia de Sergipe, comprada em 2020, que funcionava a boa parte da produção da Dok. Tanto a Ortopé quando uma rede de lojas do Nordeste, a Esposende, foram vendidas pela Paquetá, ainda em recuperação judicial, à Dok.
Antes do pedido - já aceito - de recuperação judicial, a Dok estava sob investigação do Ministério Público de São Paulo, que investigava denúncias de fundos de investimento de que a empresa emitia "duplicatas frias" e fazia antecipação de recebíveis (operação financeira em que um credor recebe um pouco menos para receber na hora pagamentos compromissados para o futuro).
Conforme essa denúncia, as emissões falsas foram identificadas em dezembro passado por redes de varejo como C&A, Renner e Riachuelo. Uma ação judicial da Renner na 13ª Vara Cível de Porto Alegre que pede a suspensão de protestos de títulos falsos de R$ 10,3 milhões. Em nota, a Dok afirma que "todos os contratos bancários estão sendo revisados e todas as garantias existentes também serão objeto de medidas protetivas para resguardar o Grupo Dok, com intuito de reestruturar o endividamento".
Curiosidade: o jingle "Ortopé, Ortopé, tão bonitiiiinho" é nada mais, nada menos, do que do compositor Renato Teixeira, que assina clássicos como Romaria e Tocando em Frente que fizeram parte da trilha do recente sucesso da Globo Pantanal.