A expressão entre aspas do título parece filme ambientado no México nos anos 1950, mas é esse mesmo o nome da enorme jazida de petróleo e gás na Argentina, que o país deseja conectar por gasoduto com o Brasil, passando pelo Rio Grande do Sul: Vaca Muerta.
Não é um campo em alto mar, como os do pré-sal no Brasil. Fica na árida província de Neuquén, norte da Patagônia, e é chamada de não convencional por ser do tipo shale (de xisto ou de folhelho em português). Conforme o governo argentino, trata-se da segunda maior do mundo em gás e quarta de petróleo dessa origem.
Descoberto nos anos 2000, esse tipo de reserva foi responsável por transformar os Estados Unidos, até então dependente de importações, em maior exportador global de petróleo. Logo, é tratado na Argentina como um tesouro nacional, assim como o pré-sal foi no Brasil. E já é uma realidade no país: conforme o governador de Neuquén, Omar Gutierrez, Vaca Muerta já responde por 64% do gás produzido na Argentina e por 45% do petróleo.
A Argentina já constrói o primeiro trecho do que chamam de Gasoducto Presidente Néstor Kirchner, que levará o gás de Neuquén até a província de Buenos Aires, um centro de consumo. É para o segundo trecho, que ligaria o entorno da Capital Federal ao Brasil, passando por Uruguaiana, que os argentinos querem contar com financiamento do BNDES. Como antecipou a coluna, a instituição vê obstáculos a serem superados para dar crédito a essa empreitada.
Mas os presidentes dos dois países sinalizaram que haverá muita "vontade política" envolvida. Luiz Inácio Lula da Silva afirmou "vamos criar as condições para fazer o financiamento que a gente puder fazer para o gasoduto argentino". Alberto Fernández, por sua vez, ponderou que esse segundo trecho é de interesse comum dada a tendência de queda nas reservas de gás da Bolívia, que ainda responde pela maior quantidade de gás consumida no Brasil.
Críticos da ideia de financiamento do gasoduto argentino lembram que o Brasil deveria investir em uma rede de dutos que permitisse o uso do gás do pré-sal, que ainda é reinjetado nos poços (em 2021, último dado disponível, 45% do total extraído teve esse destino) porque não tem como chegar aos centros de consumo. Gás e petróleo estão muitas vezes misturados na jazida. As plataformas flutuantes separam e enviam o excedente de volta à origem.