Aqui no Rio Grande do Sul, a gente repete sem susto que o Paleta Atlântida é o "maior churrasco do mundo" - às vezes, acrescentando um "de praia" ou "à beira-mar". Mas o idealizador da "brincadeira" que virou negócio, Felipe Melnick, resolveu que era hora de ter uma chancela, não só adjetivos.
Na edição de 2023, o evento terá uma avaliadora do Guinness World Records para comprovar a façanha. A expectativa é de que os 1,3 mil trios - que totalizarão 3,9 mil pessoas assando ao mesmo tempo -, passem com folga o evento de Dalisa, no Canadá, que tem esse título até agora.
– Em setembro de 2022, 914 pessoas assaram simultaneamente por cinco minutos. Vamos querer bater esse recorde avisa Felipe.
O desafio foi levado a sério: o evento contratou a vinda de uma adjudicadora (profissional responsável por fazer determinado tipo de garantia) da Colômbia - o Brasil ainda não tem escritório do Guinness - que irá a Atlântida para verificação no local. Terá ajuda de 85 voluntários que atuarão como fiscais depois de curto treinamento. Todo o processo, detalha Felipe, custa US$ 28 mil.
– Para fazer isso, tivemos de adotar uma logística rigorosa: vamos ter bolsões com 50 assadores, com uma testemunha em cada um. No final do evento, já vamos saber se batemos o recorde ou não – detalha o empresário.
Antes de dar esse passo, confessa Felipe, ele quase desistiu do Paleta Atlântida. Conta que, no ano passado, houve falhas na produção. E uma grave: faltou chopp para quem tinha comprado o passaporte.
– Quanto terminou, me prometi que nunca mais ia fazer. Mas o que para mim era brincadeira tinha virado assunto sério para muita gente. Uma pessoa me disse que tinha vindo de Roraima. Aí, como n'O Pequeno Príncipe, me convenci que nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos.
Para garantir que as falhas não se repetissem, a equipe de produção foi ampliada de 30 para 500 pessoas (quinhentas, mesmo, não tem zero sobrando). Para dar uma ideia da estrutura, Felipe conta que foram encomendados 400 toldos para seis empresa diferentes, porque nenhuma conseguia atender sozinha o pedido. E acrescenta:
– Negociei por quatro meses para fechar com Ambev e ter 250 chopeiras da Brahma, mais do que na Oktoberfest de Santa Cruz do Sul.
Para explicar porque trata o evento como brincadeira, Felipe contou à coluna que tudo começou na casa de praia da família. Em 30 de dezembro de 2016, aniversário de seu tio-avô, os tios preparavam um risoto de ovelha e começaram uma habitual provocação sobre quem cozinhava melhor. Felipe propôs que eles se desafiassem no primeiro dia de 2017.
– Era só um churrasco na beira da praia. Em casa, éramos oito pessoas, teve algumas a mais porque fui pedir emprestada a churrasqueira do vizinho e ele também quis entrar - relata, divertido.
A brincadeira em família virou um baita negócio. E, provavelmente, o maior churrasco do mundo, com a devida chancela. O evento também faz ESG na prática: recolhe alimentos para doação e organiza recolhimento do lixo, com ajuda de jogadores de futebol como Dunga e Tinga. Os 200 mil tijolos usados na estrutura do evento serão doados à Prefeitura de Xangri-lá.
O Paleta em números
- Investimento de cerca de R$ 2 milhões
- 4 mil assadores
- 40 toneladas de carne
- 3 mil espetos
- 15 toneladas de carvão
- Quinze patrocinadores, como Tramontina, KTO , Melnick, Ambev, Icatu, MA Hospitalar, Dallasanta, Fida, PUC, Nat, Pauluzzi Blocos Cerâmicos, Mercedes, Iesa, BMW Motorrad e Setcergs.
- Cerca de 200 empresas apoiadoras