Apaixonados pela bebida tão tradicional no Rio Grande do Sul, o enólogo Alexandre Chaves e os executivos Andrei Dalla Vecchia e Mouses Marcolin Fontoura decidiram colocar mãos a obra e fazer um vinho inovador no Brasil. Não na produção, mas na viabilização: criaram o primeiro rótulo brasileiro elaborado via financiamento coletivo.
Lançado em 2020, o projeto da Bodega Três Amigos apresenta o Corte Brasileiro, um tinto que representa o coração do negócio, segundo Chaves:
— O Corte Brasileiro é um resumo da perseverança e da união que fazem parte da nossa cultura. Não existe hoje no mercado um corte brasileiro, mas diversas opções que tentam reproduzir o perfil de diferentes regiões. Então por que não um corte nosso, que eleve e mostre ao mundo do que o vinho brasileiro é capaz?
Antes do projeto, os três amigos produziam vinhos para consumo próprio de forma artesanal, em baldes plásticos. Na produção do Corte Brasileiro, buscaram mais de 90 apoiadores de 12 Estados (Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), além do Distrito Federal.
O Corte Brasileiro é composto pelas variedades Touriga Nacional (casta portuguesa), Merlot (francesa) e Ancellotta (italiana). As uvas foram adquiridas de um pequeno produtor e vinificadas na origem, em Encruzilhada do Sul.
— Optamos por fermentar as três variedades no mesmo tanque. Buscamos os processos tradicionais dos grandes vinhos, com utilização de gelo seco para estender a maceração a frio por 48 horas, para ter mais cor e aroma. Seguimos a fermentação sob temperatura controlada entre 22ºC e 28ºC. Transferimos para barricas de carvalho francês e americano, blend de madeiras que agregam complexidade e textura. Depois de mais de 400 dias de maturação, engarrafamos — descreve Chaves.
Para aderir ao financiamento coletivo, cada apoiador pôde escolher diferentes modalidades de investimento, com a aquisição de uma a seis garrafas, ao custo de R$ 150 cada. Na mais completa, os investidores receberam amostras para degustar o vinho durante a elaboração.
Foram elaboradas mil garrafas do Corte Brasileiro com passagem por barrica, e 1,1 mil sem amadurecimento em madeira. O saldo será posto à venda por R$ 369, na versão barricada, e R$ 282 a sem madeira.
— Queremos mostrar que é possível atravessar as adversidades com criatividade e ousadia, o que é também uma característica brasileira por excelência, além de elevar o padrão do vinho nacional e mostrar que essa cultura é nossa também, que nossos vinhos podem ser excelentes e que todas as vinícolas devem se orgulhar de produzir aqui — diz o enólogo.
* Colaborou Mathias Boni