Para quem acompanha o mercado financeiro internacional, a queda da primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, não foi surpresa. As escolhas de política econômica da ocupante que menos tempo ficou no cargo - 46 dias - abalaram o valor da libra e determinaram turbulências extras em um cenário que já embutia alta volatilidade.
Embora Liz tenha deixado claro, durante o longo período que se seguiu à renúncia de seu antecessor, Boris Johnson, que sua intenção era fazer um grande corte de impostos, o resultado da implantação dessa política provocou rejeição dentro de seu próprio partido.
Embora a redução de impostos fosse uma política de manual dos Tories (Partido Conservador do Reino Unido), a primeira-ministra associou essa estratégia a forte aumento dos gastos do governo. Não precisa muita especialização em economia para perceber o desequilíbrio: é menos dinheiro entrando e mais saindo. Não se sustentava.
Além da perda de força da libra, que chegou a atingir o menor valor ante o dólar em 30 anos (U$S 1,03), um dos resultados foi a perda de valor de mercado de títulos públicos britânicos. Foi necessária uma intervenção do Banco da Inglaterra, o banco central do país, medida que só se justifica em períodos de iminente colapso, como ocorreu depois do estouro da bolha imobiliária.
Há seis dias, a demissão do ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, foi o sinal de que o gabinete montado por Liz não se sustentaria por muito tempo. Afinal, ele era apenas o executor da estratégia que ela havia definido. É claro que a situação econômica decorrente do Brexit não ajudou, mas em vez de encaminhar soluções, a governante agravou o problema.
Logo depois do anúncio da renúncia da primeira-ministra - que justificou a saída explicitando que não conseguiu entregar o que foi eleita para fazer -, a libra reagiu com alta de 0,5% ante o dólar. É um alerta para os candidatos à Presidência no Brasil, que promete muito sem detalhar como cobrir as despesas.