Há três cenários possíveis para o futuro do Reino Unido após a renúncia da primeira-ministra Liz Truss, que ficou apenas 45 dias no cargo, um recorde histórico. A situação é mais incerta do que nunca. Foram três primeiros-ministros em menos de três anos. O que pode ocorrer:
1) O Partido Conservador, que tem maioria no parlamento, segue com o direito de indicar o novo chefe de governo. Ou seja, o substituto de Liz Truss será o político que for escolhido novo presidente da legenda - até que isso ocorra, na prática, ela continua no cargo. Se esse for o caminho, o partido precisa realizar nova eleição interna.
O problema é que a última disputa, que se arrastou por semanas, para a sucessão de Boris Jonhson, levou a um processo fratricida, que desgastou a agremiação.
Outro problema: embora os líderes conservadores do parlamento possam selecionar os candidatos internos, quem, de fato, dá o voto final são os mais de 170 mil filiados ao partido - e, entre esses, há inclusive quem defenda o retorno de Boris Johnson. Há dois nomes que despontam como mais palatáveis entre os caciques do partido e têm algum apelo dos votantes em geral: Rishi Sunak, que ficou em segundo lugar na disputa com Truss, e Penny Mordaunt.
Mas não se pode descartar o cenário número 2.
2) Diante da fratura interna, não seria impossível o Partido Conservador chegar a um nome de consenso a fim de evitar uma nova eleição interna. A legenda que já foi liderada por nomes como Margaret Thatcher e Winston Churchill enfrenta um importante ponto de inflexão. Todos os últimos quatro primeiros-ministros - além de Liz Truss, David Cameron, Theresa May e Boris Johnson - renunciaram sob pressão do próprio partido.
Dessa vez, há pressões internas e externas (da oposição, representada pelo Partido Trabalhista) para que eleições gerais sejam convocadas. Vamos ao cenário 3.
3) Eleições gerais. Tecnicamente, o Partido Conservador ainda tem dois anos para convocar o pleito em que todos os eleitores do Reino Unido seriam convocados a votar. Isso só ocorreria em 2025.
No entanto, há pressões por renovação total do parlamento, porque muitos entendem que a legenda não é mais capaz de governar o país. Para que ocorra disputa antecipada, é necessário que o parlamento seja dissolvido - processo que, inclusive, pode ser pedido pelo próprio Partido Conservador (ou em moção de desconfiança liderado pela oposição e aprovado pela maioria dos deputados) ao rei Charles III (o chefe de Estado, no caso da monarquia parlamentarista).
Se houver eleições gerais, a oposição trabalhista (centro esquerda) tem grandes chances de voltar ao poder no Reino Unido. Segundo pesquisas, ela conta com 52% das intenções de voto, enquanto os conservadores somam apenas 23%. O último trabalhista que esteve em Downing Street foi Gordon Brown, que deixou o governo em 11 de maio de 2010. Logo, os conservadores estão no poder no país há 12 anos.