Só a especulação sobre novo corte de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) já vinha elevando a cotação do barril desde segunda-feira (3).
Nesta quarta-feira, o cartel decidiu, com apoio da Rússia, fazer um megacorte na oferta da matéria-prima, de 2 milhões de barris ao dia. É a maior redução definida desde o início da pandemia, quando o valor do barril despencou e o tipo WTI chegou a ter valor negativo.
O preço do barril voltou para o patamar de US$ 90, depois de quase 20 dias abaixo desse valor. O que vinha provocando essa queda eram as projeções de desaceleração ou até recessão nos países ricos. Com menor atividade econômica, cairia também o consumo de combustíveis.
Mas o corte, desta vez, é significativo: equivale a cerca de 2% do consumo diário da matéria-prima. Parece pouco, mas para comparar, a redução anterior, de 100 mil barris diários, correspondia a 0,1%. A medida vai encolher a oferta em um momento que, a despeito da desaceleração, havia inquietação com disponibilidade, demanda ainda elevada, falta de investimento e barreiras de fornecimento.
No Brasil, as ações da Petrobras sobem cerca de 4% por efeito da alta do petróleo, que já acumula alta de cerca de 10% só nesta semana. Conforme a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o preço da gasolina na terça-feira (4) - portanto sem o efeito da alta de cerca de 2% desta quinta-feira (5) - estava 8% abaixo da referência internacional, e o do diesel, 3%. Mas é altamente improvável que a Petrobras decida aumentar os preços das refinarias durante a disputa do segundo turno das eleições.
O megacorte tem ainda consequências geopolíticas: a decisão é uma vitória da Rússia, que perdeu cerca de um milhão de barris por dia de produção desde que invadiu a Ucrânia, em fevereiro. Desde então, o país sofreu sanções e há previsão de embargo por parte da União Europeia a partir de dezembro. E uma derrota dos Estados Unidos, três meses depois de uma visita de seu presidente, Joe Biden, à Arábia Saudita, como tentativa de reaproximação.
A política da Petrobras
Para reajustar o preço nas refinarias, a Petrobras adota um cálculo chamado Paridade de Preços de Importação, adotado em 2016, no governo Temer. A intenção é evitar que a estatal acumule prejuízo com por não repassar aumentos de produtos que compra do Exterior, tanto petróleo cru quanto derivados, como a gasolina. A fórmula inclui quatro elementos: variação internacional do barril do petróleo — com base no tipo brent, com preço definido na bolsa de Londres —, cotação do dólar em reais, custos de transporte e uma margem definida pela companhia, que funciona como um seguro contra perdas.