Houve tanto suspense na definição de um "Posto Ipiranga" na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva que, quando houve sinais de que teria surgido um, provocou intensas reações.
No mercado, que não costuma declarar simpatia pelo candidato petista, o apoio dado pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles deu um suposto alívio a analistas que veem tendência de "centro econômico". Mas entre os economistas que cercam Lula, há fortes resistências ao ex-ministro e a suas ideias.
Então, é cedo para dizer que Meirelles será, de fato, o principal guru econômico do petista ou mesmo um ministro em caso de vitória. O que aconteceu até agora foi apenas um encontro que, depois se soube, foi articulado pelo candidato a vide, Geraldo Alckmin, e pelo candidato a governador pelo PT, Fernando Haddad.
Na sala com vários outros ex-candidatos à Presidência, não se discutiu economia. Mas Lula já admitiu ter marcado uma reunião específica com Meirelles. Assunto não falta. Para começar, será preciso resolver uma contradição entre os dois. No programa do candidato petista, está escrito que ele vai revogar o teto de gastos. Meirelles é o autor da regra, que entrou em vigor em sua passagem pelo Ministério da Fazenda na gestão de Michel Temer.
Em entrevista posterior ao jornal Valor Econômico, Meirelles fez um aceno - disse que a reação do mercado financeiro ao seu apoio ao petista foi positiva por ser interpretado como sinal de que um eventual novo governo do PT teria uma "política econômica com responsabilidade fiscal e monetária" - mas não hesitou em afirmar que "cancelar o teto (de gastos) é equivocado".
E esse será apenas um dos vários pontos potenciais de conflito entre o discurso do candidato e as práticas de Meirelles. Privatização é um tópico de destaque em uma ampla lista que inclui a reforma trabalhista. Nesse caso, ambos querem revisar as regras atuais. Lula, para voltar ao que era antes, Meirelles, para aprofundar a flexibilização. A aproximação parece mais um posto "bandeira branca", no sentido de Lula buscar a pacificação com um público que resiste em reabastecer sua confiança no petista.