Sim, "Posto Ipiranga" não é um sinônimo para "guru econômico" ou "potencial ministro da Economia" apreciado por lulistas. Afinal, o uso da expressão surgiu com Paulo Guedes, a quem o então candidato Jair Bolsonaro mandava perguntar temas relacionados à política econômica. No entanto, acabou se consolidando como um termo genérico.
E agora que terminou o prazo para convenções partidárias indicarem candidatos à Presidência — assim como aos demais mandatos —, o quadro eleitoral está consolidado. Mas faltando menos de dois meses para a eleição, não se sabe quem é o formulador das políticas econômicas de um dos principais concorrentes, Luiz Inácio Lula da Silva.
A resposta curta para a pergunta é simples: Lula acha que não precisa de um "Posto Ipiranga". É uma posição em constante debate interno na federação — conjunto de partidos que apoia a candidatura. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que ficou nove anos no cargo, maior tempo na história do país, afirmou que economistas como Aloizio Mercadante, Ricardo Carneiro, Guilherme Mello e Nelson Barbosa assessoram o candidato petista. E afirmou, em entrevista à revista Veja:
— O Lula não tem um Posto Ipiranga, o Posto Ipiranga é o Lula.
O argumento de Mantega é de que Lula já indicou suas diretrizes econômicas em governos anteriores. Mas se foi capaz de desinflar o susto do mercado com sua eleição, em 2002, quando o dólar atingiu cotação real mais alta da história (R$ 3,99 em termos nominais, que hoje equivaleria a pelo menos R$ 13,46, só corrigindo o valor pelo IPCA), Lula também carrega o peso de equívocos, sem contar as acusações de corrupção.
Em abril, um dos coordenadores da campanha de Lula, Wellington Dias, disse à agência de notícias Bloomberg que "não haverá um Posto Ipiranga, o presidente Lula trabalha em equipe". O problema é que nenhum dos citados por Mantega tem trânsito muito fluido entre empresários ou no mercado financeiro. Por isso, no meio empresarial, o papel de "posto Ipiranga" do petista tem sido o candidato a vice, Geraldo Alckmin.
Outra lacuna sobre a qual há cobranças é um interlocutor para o mercado financeiro. Ex-CEO do Banco Fator, o economista Gabriel Galípolo chegou a acompanhar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em jantares com representantes do segmento. Em sua presença, a dirigente afirmou que o partido não vê problema na manutenção de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central — com a autonomia da instituição, ele tem mandato até dezembro de 2024. Disse ainda que não há intenção de revogar a reforma trabalhista, mas em "melhoramentos" nas regras.
Galípolo seria uma espécie de contraponto aos consultores "PT raiz" de Lula na economia. Formado em Economia em 2004, dois anos depois foi trabalhar no governo José Serra em São Paulo como chefe da assessoria econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos. Atuou na implementação de parceria público-privada para construção de linha do metrô. Depois, no Fator, atuou na consultoria das privatizações da Cesp, em São Paulo, e da Cedae, no Rio.
Se é conveniente para o candidato — Lula já afirmou que "não discute política econômica antes das eleições", o que é um contrassenso —, a falta de uma âncora clara reforça as resistências já existentes ao PT no meio empresarial e no mercado financeiro.