Se alguém ainda tinha dúvida sobre a intenção eleitoral do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, ele mesmo resolveu ao indicar seu consultor econômico em entrevista na TV Globo a Pedro Bial: Affonso Celso Pastore.
É insuficiente dizer que Pastore foi presidente do Banco Central entre setembro de 1983 e março de 1985 – portanto, nos estertores da ditadura militar, sob o governo de João Figueiredo e com Ernane Galvêas como ministro da Fazenda.
Mas apesar de ter o posto mais alto de sua carreira pública em período histórico conturbado, Pastore virou referência para várias gerações de economistas, ao menos da corrente hegemônica no pais, chamada genericamente de "ortodoxa". É descrito como "liberal na economia e conservador nos costumes".
Foi um dos primeiros a contestar o modelo vigente até a década de 1990, de controlar a inflação por meio da intervenção direta sobre preços. Antes de ir para o governo, o economista só tinha carreira acadêmica, ou seja, só atuava na Universidade de São Paulo (USP), não tinha passagem pelo mercado financeiro. Aos 82 anos, é pouco provável que assuma um ministério em um eventual futuro governo Moro, mas ao permitir a citação de seu nome, dá uma chancela com peso ao ex-ministro.
Pastore é referência para centros de análise como a Casa das Garças, no Rio de Janeiro, ao qual já foram ligados Armínio Fraga (ex-presidente do BC) e Elena Landau (ex-diretora de desestatização do BNDES), entre outros, e o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), de São Paulo, que abriga nomes como Ilan Goldfajn (ex-presidente do BC e atual presidente do conselho de administração do Credit Suisse) e Mário Mesquita (ex-diretor do BC e atual economista-chefe do Itaú Unibanco).
A indicação de Pastore surpreendeu, porque ele se mantinha afastado do debate político há décadas. Habitualmente muito discreto, neste ano Pastore abriu uma polêmica com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Assinou todos os manifestos que contestaram o governo Bolsonaro e fez muitas críticas à condução econômica, com alta repercussão no empresariado e no mercado financeiro.
Em uma das mais agudas, afirmou: "não temos ministro da Economia, temos um cheerleader (expressão em inglês para chefe de torcida, usada em sentido pejorativo)". Guedes, obviamente, reagiu. Disse que Pastores não compreendia o planejamento porque "não tem um bom treinamento e não está conseguindo entender o programa" e tinha "treinamento com deficiências na Teoria do Equilíbrio Geral" uma das principais bases da teoria econômica.
Veja algumas declarações de Pastore
"O Brasil está em frangalhos porque o Bolsonaro está em campanha eleitoral 100% do tempo. Esse governo deveria começar a governar, o que acho que não começou até agora. Está em campanha."
"Se o governo não tiver uma meta de gasto, o que está em risco é a solvência do governo."
"Não há política econômica, consequentemente não temos ministro da Economia. Ele (Guedes), no fundo, é um propagandista do governo Bolsonaro, está sendo uma peça no tabuleiro político do presidente Bolsonaro."
"Um presidente que não tem um programa, um ministro da Economia que não tem um programa, e vários outros ministros gastadores que têm programas demais. E em vez de pensar em resolver o problema do país, o nosso presidente pensa na sua eleição em 2022 para manter a sua popularidade."