A descarbonização da economia até 2050 é prioridade em países, que, juntos, representam mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) global. O mercado voluntário de carbono, por sua vez, é um dos eixos de solução. Tem as funções de mitigar emissões de gases de efeito estufa e estruturar modelos de créditos para captura do que ainda não pode ser abatido no processo.
No Brasil, onde o cavalo parece passar encilhado, sem chamar a devida atenção das políticas públicas e de regulação, um grupo de grandes empresas e organizações uniram forças para destravar esse mercado. São elas: Amaggi, Auren, B3, Bayer, BNDES, CBA, Dow, Natura, Rabobank, Raízen, Vale, Votorantim e Votorantim Cimentos. A meta é contribuir com o cenário global de créditos de carbono, também chamados de “offsets”.
Nada mais “natural”, tendo em vista que, de acordo com dados da McKinsey & Company, que coordena os conteúdos gerados a partir da iniciativa, o mercado movimenta US$ 15 bilhões (deverá chegar a US$ 100 bilhões em 2030) e só 15% da demanda é doméstica. O restante vem da exportação dos offsets às empresas internacionais.
A questão, alerta o sócio e líder da McKinsey & Company, Henrique Ceotto, é que, hoje, os crédito gerados por aqui são os de conservação e os de abatimento de aterros energéticos, quando o real interesse estaria na restauração de biomas. Para se ter uma ideia, o potencial nacional chega a 1,9 giga toneladas (GT) de crédito offset por ano – 1,5 GT, ou 80%, originado no reflorestamento, outros 10% na conservação e a sobra na agricultura e aterros. Apenas na agricultura há 160 GT de potencial não explorado, muito mais do que em toda a Europa.
– Há grande oportunidade de criar um mercado e ajudar as metas de descarbonização do mundo e a endereçar a mudança climática. É um negócio ambientalmente correto em que você efetivamente colhe benefícios importantes para emprego e PIB e a maior parte dos empregos é gerada nas regiões socioeconomicamente desafiadas pela temática, aumenta-se a segurança hídrica e qualidade da biodiversidade – resume o executivo.
Diante dos números, fica fácil perceber que a temática deixou de ser “papo de ambientalista” e se tornou crucial para a evolução da economia “verde” global. Com tamanhas possibilidades, talvez, o Brasil seja beneficiado, ou salvo, pelo próprio potencial. Mas, a julgar pelo interesse nessa pauta dentro do debate público, até o momento, o bonde da história parece correr livre sob os olhos desatentos das políticas e regulações do país. A boa notícia: ainda há tempo de conseguir um lugar para sentar-se à janela.