Entre exportadores gaúchos, havia expectativa de que a nova ministra da Economia da Argentina, Silvina Batakis, anunciasse novas medidas nesta semana. Talvez porque todos funcionem no modo "espere o melhor, prepare-se para o pior", o conjunto da obra trouxe até certo alívio. Certo.
Chamou atenção a insistência com que Silvina, uma "cristinista" — do grupo político da vice-presidente do país, Cristina Fernández de Kircher — falou em "equilíbrio fiscal":
— Todas as medidas têm relação com a garantia do equilíbrio fiscal. Os gastos mensais serão somente os que permitirem a projeção do caixa real. Não vamos gastar mais do que temos — disse, conforme relato do jornal Clarín.
De fato, todas as medidas parecem formuladas para tranquilizar o mercado, que já tinha pesadelos com calotes, congelamentos, corralitos, cepos mais altos e outros produtos da criatividade dos economistas heterodoxos argentinos.
Até apareceu um congelamento, mas no setor público: não haverá contratações na administração federal, nem em organismos descentralizados. Conforme o jornal La Nación, os kirchneristas e cristinistas estão "resignados" com o discurso economicamente correto, que seria parte da trégua com o presidente da Argentina, Alberto Fernández.
Sobre as remarcações de preços, que chegavam a ocorrer em minutos no país, fazendo com que se perdesse a referência de valor, a ministra afirmou que não vai "permitir abusos", ainda segundo o Clarín:
— O que aconteceu na última semana em questão de de preços não tem nenhuma explicação técnica, é só especulação.
Uma das leis, a de Administração Financeira, determina que todos os ministérios e estatais terão de cuidar da eficiência dos gastos. Soa como música a ouvidos brasileiros no momento em que esse cuidado foi deixado de lado por aqui. Mas, claro, teve um toquezinho de criatividade: em vez de dar calote, propôs a criação de um comitê assessor da dívida, que avalie, analise e faça propostas em termos de dívida soberana em pesos.
Em Buenos Aires, o famoso dólar blue (paralelo) cedeu discretamente, de 268 para 273 pesos. Há alívio, mas também desconfiança. Não só sobre a capacidade de a Argentina seguir assim mas também de que haja algum coelho heterodoxo escondido na cartola ortodoxa da apresentação.
Por que a Argentina restringiu importações
Uma das últimas medidas do ex-ministro da Economia Martín Guzmán, representa novo endurecimento do "cepo cambiario", como os argentinos chamam o conjunto de restrições a operações com dólar no país. "Cepo", tanto em espanhol como em gauchês, é onde se amarra algo. É esse o espírito das novas regras, adotadas para dificultar o acesso a dólares. Antes restrito a transações de pessoas físicas, agora afeta importações do setor privado.
O contexto é de escassez de reservas, com a alta nos preços internacionais de energia. Desde a data da decisão, as reservas, que haviam caído a US$ 38 bilhões — quase um décimo das brasileiras —, voltaram para a casa de US$ 42 bilhões (clique aqui para ver a variação). O objetivo é não deixar o nível de reservas internacionais argentinas cair abaixo do nível crítico, já que o país tem dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).