Ainda antes da troca no Ministério da Economia da Argentina, uma regra cujo objetivo era frear a saída de dólares do país atingiu o setor calçadista.
Ao buscar informações em outros segmentos, a coluna colheu relatos de elevada insegurança com a atual situação do país, especialmente de temor de novas medidas com a ascensão de Silvina Batakis, nova comandante da Economia no país.
Conforme o relato de um empresário que exporta muito ao país vizinho, há "dificuldades para conversar com mais objetividade e segurança" com os clientes, mesmo por meio de um "confiável agente de negócios". O motivo, detalhou, é a alta insegurança em relação a novas medidas a serem implementadas pela nova ministra e pelo Banco Central, previstas para a próxima semana.
Para lembrar, Martín Guzmán, que era considerado um dos últimos ministros do grupo do presidente Alberto Fernández e tido como "moderado", renunciou no sábado. Sua sucessora, Silvina Batakis, foi uma indicação do grupo de Cristina Fernández de Kirchner, vice-presidente considerada mais "radical".
Até este momento, relatou outro exportador gaúcho à coluna, o problema real e imediato é a determinação de que as importações que superarem os valores de 2021 só sejam pagas em um prazo mínimo de 180 dias. Nesse caso, detalha, há disposição de "pagar algum juro, ainda a ser negociado entre as partes, mas não sabemos ainda com quais taxas".
Do ponto de vista de quem vende produtos ou serviços para a Argentina, o risco de inadimplência aumentou devido ao acúmulo de embarques e à disparada do câmbio paralelo. A inflação acumulada em 12 meses na Argentina é de 60%, cinco vezes maior do que o índice oficial no Brasil. Entre o descasamento com o dólar oficial e risco de disparada adicional de preços, avalia, há "grande desconfiança e incerteza sobre os rumos da economia do país".
Por que a Argentina restringe importações
A medida é parte de novo endurecimento do "cepo cambiario", como os argentinos chamam o conjunto de restrições a operações com dólar no país. "Cepo", tanto em espanhol como em gauchês, é onde se amarra algo. É esse o espírito das novas regras, adotadas para dificultar o acesso a dólares. Antes restrito a transações de pessoas físicas, agora afeta importações do setor privado.
O contexto é de escassez de reservas, com a alta nos preços internacionais de energia. Desde a data da decisão, as reservas, que haviam caído a US$ 38 bilhões — quase um décimo das brasileiras —, voltaram para a casa de US$ 42 bilhões (clique aqui para ver a variação). O objetivo é não deixar o nível de reservas internacionais argentinas cair abaixo do nível crítico, já que o país tem dívida de US$ 44 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).