Vice-presidente sênior da Fiat para a América do Sul, Hernander Zola veio a Porto Alegre para marcar a inauguração oficial de uma nova revenda da marca, agora no Grupo Iesa. Antes da cerimônia, conversou com a coluna sobre a nova fase da montadora de origem italiana no Brasil e dentro da Stellantis, fusão entre a Fiat-Chrysler (que inclui a Jeep), e a PSA (Peugeot-Citroen), que criou a quarta maior fabricantes de carros do mundo e reúne 21 marcas. Depois de enfrentar dificuldades no mercado nacional, a Fiat tem hoje o veículo mais vendido do Brasil, a nova Strada, e segundo Zola, 21% de participação nas vendas do país e 14% na América Latina.
— Estamos inaugurando mais uma concessionária em Porto Alegre, da Iesa, na frente do Beira-Rio, o que demonstra a crença da marca Fiat na região — disse à coluna.
Você veio para oficializar uma nova revenda. No passado recente, esse assunto era um problema para a Fiat, a visita faz parte da solução?
Vim para a inauguração oficial de uma loja, com um parceiro que está conosco há sete ou oito meses, a Iesa. Começamos com outra loja, hoje agregamos outra. A relação com os concessionários, que no passado se configurou como problema, deixou de ser há algum tempo. A principal razão, que era a falta de rentabilidade, foi solucionada depois do investimento da montadora em novos produtos e na qualificação dos concessionários. A marca se modernizou.
Como está a produção nas unidades da América Latina? Semicondutores ainda atrasam entregas?
Hoje ainda existe restrição produtiva, por falta de de semicondutores e de outras categorias de produtos. Temos dificuldades pontuais na Europa relacionadas à guerra na Ucrânia, as relacionadas a sucessivos lockdowns na China, e tudo tem impacto aqui. Não só no fornecimento direto a nós, mas no segundo nível, nossos fornecedores não recebem. A cadeia ainda está muito afetada mundo afora.
Qual é o prazo de entrega hoje?
Temos muitos produtos disponíveis na rede para pronta entrega, como Mobi, Argo em algumas versões, Toro, Fiorino. O grande problema envolve versões específicas, que tem mais tecnologia. Na média, o prazo é de 30 a 60 dias, no caso da Strada é maior.
A Fiat tem planos de renovar a gama global, mas a decisão aqui está sendo bem estudada para identificar a forma como vamos fazer para que garanta, baseado no portfólio que temos, espaço para se posicionar de forma competitiva.
No Brasil, quase toda a linha foi renovada, e agora vem aí a nova gama global?
A Fiat sempre teve a chance, no Brasil, de buscar soluções locais. Por isso, hoje os únicos produtos da linha global são o 500 elétrico, que ainda tem volume pequeno, mas é um ícone da marca, e a van Scudo, que lançamos na semana passada. Todos os demais foram desenvolvidos na região, Toro, a Nova Strada, Argo, Cronos, Pulse. É um portfólio jovem e atraente, que ainda tem alguns anos pela frente. A Fiat tem planos de renovar a gama global, mas a decisão aqui está sendo bem estudada para identificar a forma como vamos fazer para que garanta, baseado no portfólio que temos, espaço para se posicionar de forma competitiva. Ainda não há decisão tomada.
O peso do Brasil garante essa autonomia?
Sim, o Brasil tem a maior participação de mercado em um mercado específico da marca Fiat no mundo. Olhando volumes, o da Europa é maior, mas o quando compara share, o peso da Fiat aqui é maior do que lá. Isso nos dá liberdade e um nível de autonomia importante para propor investimentos e produtos que se adaptem às necessidades aqui. Por exemplo, picapes tem peso pequeno na Europa, mas são importantes no Brasil. A nova Strada é o veículo mais vendido no Brasil hoje, e há algum tempo.
Os híbridos vendem mais, mas o nível de acessibilidade ainda é uma barreira, porque ainda são substancialmente mais caros do que os modelos a combustão.
A partir de 2024, todos os lançamentos da Fiat na Europa serão elétricos. Quais os planos de eletrificação para o Brasil?
Como já disse nosso CEO, Antonio Filosa, estamos muito antenados nas mudanças de comportamento para ofertar soluções que funcionem de maneira adequada, na velocidade com que o comportamento muda. Como os números mostram, os carros puramente elétricos ainda têm pouco peso nas vendas. Os híbridos vendem mais, mas o nível de acessibilidade ainda é uma barreira, porque ainda são substancialmente mais caros do que os modelos a combustão.
Por que ainda são tão caros?
São importados, portanto suscetíveis ao câmbio que, como diz a palavra, "cambia" (muda, em espanhol). Assim, o produto que parecia ser atraente se torna pouco. Além disso, há tecnologias diferentes. A autonomia da bateria também define o custo. Quando maior, mais alto o preço. Estamos trabalhando para soluções viáveis de híbridos à base de etanol. Quando se considera o nível de emissões, desde a produção de cana até o gás do escapamento, o carro a etanol é tão limpo quanto o elétrico. Esse é o nosso movimento para acelerar soluções localizadas e produzidas no Brasil ou na região.
O Brasil é um mercado muito atraente para as montadoras, com mais de 200 milhões de habitantes. A distribuição de renda ainda não é a que a gente idealiza.
Quando a Ford saiu do Brasil, houve um debate se o Brasil está perdendo atratividade para montadoras, por perda de renda. Está?
O Brasil é um mercado muito atraente para as montadoras, com mais de 200 milhões de habitantes. A distribuição de renda ainda não é a que a gente idealiza. Do ponto de vista de potencial de mercado, o Brasil já mostrou que tem pode estar entre os cinco maiores mercados, hoje está entre o oitavo e o nono. Como a guerra mudou a lógica de distribuição, principalmente de recursos primários no mundo, isso deve ter um efeito positivo no Brasil, um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. No próximo ano, com situação mais estável, com cenário político mais definido, podemos observar crescimento importante.
Com a Fiat na Stellantis, vamos ver um carro Peugeot saindo da fábrica de Betim, por exemplo?
A fábrica de Betim não é da Fiat, é da Stellantis. E já está saindo. A Partner Rapid, van da Peugeot, já está lá em Betim. A fábrica de Goiana (PE), que fabrica Jeep, está produzindo Toro. Já é uma situação que ocorre em algumas das nossas fábricas também na Europa. Sempre que for possível adaptar as plataformas e fizer sentido, pode ser feito.