Com a aprovação da privatização da Eletrobras pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o governo anunciou a possibilidade de compra de ações da companhia com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), em um percentual inédito até agora: 50%.
Com a alta do juro, o FGTS voltou a ser o patinho feio de sempre, com rendimento de 3% ao ano (quando o juro básico baixou a 2%, era um baita investimento), então qualquer possibilidade de obter mais deve ser avaliada, mas com cuidado.
O primeiro alerta é justamente para o percentual permitido: 50% é muita coisa, mesmo para quem não tem um pequeno pé-de-meia forçado. Então, melhor não deixar metade dessa reserva sem liquidez e com rendimento ridículo, mas muito útil em emergências, em um só ativo. Fundos de ações representam oportunidade de ganhos maiores, mas também de grandes perdas. Então, é melhor fazer controle de danos já na saída.
Depois, vem a análise do retrospecto. A possibilidade de uso do FGTS em fundos de ações já ocorreu em duas outras aberturas de capital: da Petrobras, que seguiu estatal, e na privatização da Vale. No primeiro caso, houve valorização de 1.236,2% entre agosto de 2000 e maio de 2022, ante 152,7% no FGTS. No caso da Vale, o fundo se apreciou 3.426,4% ante 133,4% no FGTS.
Parece boa ideia sair correndo e pedir para colocar o dinheirinho suado em um fundo de ações na Eletrobras, não? Calma aí. Primeiro, que os cotistas de Petrobras andam de cabelos em pé com as perdas recentes de seus fundos, que vêm provocando um efeito decrescente naqueles lindos 1.236,2% citados acima. Segundo, que ganho passado não garante bom negócio futuro - é uma regra geral de mercado e alerta feito antes de qualquer investimento. Terceiro, que a privatização via capitalização da Eletrobras é mais encrencada do que suas antecessoras.
O processo é básico: a Eletrobras vai vender novas ações no mercado, e a União, que hoje é controladora, não vai comprar. Assim, vai encolher sua fatia na empresa e sair do controle (espera-se que apenas na acepção corporativa). Mas para autorizar esse processo, o Congresso instalou um jabuti: exigiu que os novos controladores invistam em cinco térmicas a gás em regiões onde gás não há. Ou seja, será preciso construir gasodutos, elevando o investimento para muitas dezenas de bilhões. Por isso, muitos defensores de privatizações prefeririam que essa não avançasse. Ou seja, risco não falta. Pode compensar, mas é preciso ter consciência de que existe.